Confrontos entre manifestantes e polícia na Guiné-Conacri
29 de setembro de 2020Em Bailobaya, na periferia da capital, os jovens ergueram barricadas, derrubaram caixotes do lixo, queimaram pneus e deitaram óleo de motor na estrada principal, que liga os subúrbios e o centro da cidade.
Cenas semelhantes ocorreram nos subúrbios de Matoto e Hamdallaye, onde agentes da lei tentaram levantar barricadas e perseguiram os jovens pelas ruas, utilizando gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes que respondiam com pedras.
A Frente Nacional de Defesa da Constituição (FNDC) relatou outros confrontos semelhantes, particularmente no oeste do país.
O movimento tem mobilizado milhares de guineenses para as ruas desde outubro de 2019 para tentar impedir que o Presidente Condé seja eleito pela terceira vez. Ao longo do ano, os protestos terminaram em confrontos e foram severamente reprimidos várias vezes, o que resultou na morte de dezenas de civis.
A FNDC visava uma mobilização em massa a partir desta terça-feira (29.09), menos de três semanas antes das eleições presidenciais de 18 de outubro, mas as autoridades proibiram a marcha planeada, dizendo que queriam reservar espaço público para os partidos durante a campanha eleitoral, o que foi considerado "ilegal" pelo movimento.
Detenções
A Frente Nacional de Defesa da Constituição anunciou que um dos seus líderes, Oumar Sylla, foi detido e levado para uma esquadra de polícia, uma detenção confirmada pelo Governo.
Um correspondente da agência France-Presse testemunhou que viu uma dúzia de jovens serem presos e levados em duas recolhas pelas forças de segurança.
O antigo opositor histórico, Alpha Condé, 82 anos, primeiro Presidente democraticamente eleito da Guiné-Conacri em 2010 após décadas de regimes autoritários, foi reeleito em 2015.
Num referendo muito concorrido em março, o chefe de Estado fez aprovar uma nova Constituição que mantém o limite de dois mandatos presidenciais, mas argumentou que esta mudança na lei fundamental repõe a contagem de mandatos presidências a zero.
Fronteiras fechadas
No contexto da campanha eleitoral para as presidenciais, a Guiné-Conacri decretou o encerramento das suas fronteiras com a Guiné-Bissau e o Senegal.
O ministro guineense da Segurança, Albert Damantang Camara, não esteve contactável para explicar a decisão, mas um funcionário do Governo disse, sob condição de anonimato, à agência France-Presse, que as fronteiras com os dois países tinham sido fechadas por razões de segurança, sem avançar mais pormenores.
O ministro do Interior da Guiné-Bissau, Botche Candé, disse esta terça-feira (29.09) em Bissau que tinha "recebido informações de funcionários fronteiriços indicando que a fronteira tinha sido unilateralmente fechada pela Guiné-Conacri desde domingo".
Antes do encerramento, os guineenses residentes em Bissau que queriam participar nas eleições presidenciais de 18 de outubro tinham relatado dificuldades no registo no consulado e começado a tentar regressar ao seu país para votar, de acordo com testemunhos, citados pela mesma agência.
O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, tem relações tensas com o seu homólogo guineense Alpha Condé, que tem estado envolvido nos esforços diplomáticos para tentar resolver as crises políticas recorrentes na Guiné-Bissau.
A ausência de qualquer representante da Guiné-Conacri em 24 de setembro nas cerimónias de independência em Bissau foi notada.