Congresso da Frelimo termina sem claras definições
28 de setembro de 2012Uma das grandes surpresas do décimo Congresso da Frelimo, em Moçambique, que terminou nesta sexta feira (28.09), a noite, foi a não reeleição do atual primeiro-ministro, Aires Ali, para a comissão política do partido.
Ali era forte candidato para suceder o atual presidente moçambicano, Armando Guebuza, na liderança da Frelimo, partido no poder, e com isso hábil a se candidatar à presidência da República, nas próximas eleições.
Guebuza precisa deixar a cadeira política mais cobiçada de Moçambique porque segundo a Constituição, uma mesma pessoa não pode governar o país mais de dois mandatos consecutivos. Logo, Guebuza não pode se candidatar à reeleição. Recorda-se, que no último dia 26, o mesmo foi reeleito presidente da Frelimo.
Trocas no Comitê Central
Por inerência de funções, Ali vai manter o seu assento na comissão política, mas sem direito a voto, o que segundo observadores, poderá fragilizar a sua posição como primeiro-ministro. O antigo secretário-geral da Frelimo, Manuel Tomé, pediu para não fazer parte da nova composição da comissão política. Os motivos são desconhecidos.
As eleições desta sexta feira foram marcadas também pelo afastamento do Comitê Central de alguns políticos antigos da Frelimo, como Jorge Rebelo, um dos grandes críticos do partido; Jacinto Veloso, antigo ministro da Segurança; Hama Thai, um dos destacados generais da luta armada de libertação nacional e ex- comandante da força aérea; Alfredo Gamito e Teodoro Waty, presidentes de Comissões Parlamentares.
Entre os notáveis que entraram para o Comitê Central constam, entre outros, os nomes dos atuais ministros dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi; da Defesa, Filipe Nyusi; das Finanças, Manuel Chang; e dos Combatentes, Mateus Kida.
Além destes, constam também a filha do presidente moçambicano Armando Guebuza, a jovem empresária Valentina Guebuza; e Celso Correia, empresário muitas vezes citado na imprensa como "testa de ferro" de Guebuza, em alguns de seus negócios. Filipe Paúnde foi reeleito para o cargo de secretário-geral da Frelimo.
Oportunidades perdidas
O Congresso foi marcado pela revisão dos estatutos e do programa do partido; além de debates sobre a gestão da Frelimo e questões de desenvolvimento no acesso à ampliação de serviços sociais, de saúde, de água, educação, e da produção agrícola e industrial.
Ênfase especial mereceu ainda a questão da unidade nacional, destacada pelo delegado da Frelimo Zacarias Kupela: "Preservação da paz, estabilidade e equilíbrio social. A Frelimo estuda formas de redução sistemática do fosso entre pobres e ricos, que se instalou no país e que tende a crescer de uma forma dramática e assustadora."
Para alguns moçambicanos, o evento teve muitas moções de saudação em vez de debates aprofundados. Como acredita este homem que falou à DW África: "Os delegados passaram o tempo todo a enaltecer a figura do presidente do partido. Uma clara bajulação. Perderam oportunidade de debater temas bastante quentes, em benefício das comunidades e do povo moçambicano."
Após a eleição do Comitê Central, o presidente da Frelimo, também chefe de Estado do país, Armando Guebuza, disse que o partido vai manter contato direto
com as bases - por meio das células que possui - e que vai assegurar maior coesão interna. Além disso, destacou a importância de "uma crescente qualidade e diversificação das intervenções políticas [da Frelimo] e uma maior vitalidade no funcionamento dos nossos órgãos."
Autor: Leonel Matias (Maputo)
Edição: Bettina Riffel / António Rocha