Conquistar alguns litros da riqueza da Nigéria
15 de dezembro de 2012A entrada está bem camuflada e só é acessível por barco. Alguns homens afastam cuidadosamente os grandes ramos das margens. Uma medida de segurança importante para que o seu esconderijo não seja descoberto tão rapidamente. Pois aqui, nas margens do Delta do Níger, no extremo sudeste do país, num labirinto de incontáveis braços de rio alguns nigerianos recuperam um pouco da riqueza do país.
Quando o barco já está atracado, Joshua distribui botas de borracha. Um fumo acre paira no ar, o chão é lamacento e negro por causa do petróleo. Joshua vai à frente. Por toda parte há baldes de metal, barris e, no meio, pedaços simples de madeira auto-talhada, com os quais os homens produzem gasolina, querosene e diesel. São o coração da refinaria local. Por aqui, ninguém quer ouvir a palavra "ilegal".
Sujo, perigoso e quente
Quem aqui trabalha não tem uma tarefa fácil. As chamas são altas. Um dos produtores enxuga o suor da testa. Os seus antebraços estão negros. Ele é o responsável pelo aquecimento do petróleo bruto num dos grandes barris. Não existem medidas de protecção no manguezal. "Este é um trabalho muito perigoso. Já houve alguns incêndios", diz Joshua. "Posso mostrar-lhe as cicatrizes de um dos trabalhadores."
Não são apenas os aparatosos incêndios que tornam o trabalho aqui tão perigoso. A expectativa de vida no Delta do Níger é de apenas 41 anos, diz Nnimmo Bassey, vencedor do Prémio Nobel Alternativo e presidente da organização não governamental nigeriana Environmental Rights Action (ERA). No resto do país, é de pelo menos 48 anos. A culpa é da poluição causada pela produção de petróleo. É queimado o gás associado ao petróleo em todos os lugares no Delta do Níger, apesar desta prática ser proibida desde 1984. A combustão do gás sem filtros gera gases tóxicos.
E a queima do gás associado não é a única fonte de poluição. Regularmente, é derramado petróleo de oleodutos com fugas ou desviados ilegalmente, tornando a água não potável, destruindo populações de peixes ou poluindo as terras dos agricultores.
Não há outros trabalhos no Delta
Nas refinarias locais não é diferente. No entanto, Joshua justifica o seu trabalho com a matéria-prima. "Nós só fazemos isto porque não existem outros trabalhos." Enquanto isso, o petróleo é derramado sem impedimentos sobre a terra. Em dias bons, os homens produzem 10.000 litros de gasolina e 25.000 litros de diesel. Dizem que tudo isto serve apenas para uso pessoal, para os geradores das casas e para os motores dos barcos.
Juliette acena para os homens. A jovem, que caminha pela lama com enormes botas de borracha, conhece este esconderijo bem camuflado. "É aqui que compro o meu querosene", diz. Na sua mão esquerda balança uma lata amarela de 25 litros. Enchê-la custa 300 nairas (cerca de 1,50 euros), um preço irrisório. Num posto de gasolina, teria de pagar pelo menos 500 nairas por litro, no caso de haver querosene. Muitas vezes, as pessoas esperam horas ou até mesmo dias por um novo fornecimento. Quando o combustível finalmente chega, o preço rapidamente triplica ou quadruplica.
Um dólar para sobreviver
A produção de petróleo na Nigéria começou em 1958. Até agora, a população ainda não beneficiou da riqueza dos recursos naturais. Várias organizações de direitos humanos estimam que cerca de 70% dos 160 milhões de nigerianos vivem abaixo da linha de pobreza, isto é, com 1,25 dólares (0,95 euros) por dia. Há vinte anos, segundo o Banco Mundial, eram apenas 34%. "Há 50 anos, a descoberta de petróleo foi a melhor coisa que poderia ter acontecido à Nigéria. Hoje, sabemos que para o Delta do Níger foi o pior", afirma Kentebe Ebiaridor. Trabalha em Port Harcourt, a principal cidade do Delta do Níger, na ERA. "Com o dinheiro do petróleo, construíram-se cidades como Abuja e Lagos. Aqui, a região ficou de mãos a abanar", lamenta.
No entanto, a Nigerian National Petroleum Corporation (NNPC), a petrolífera estatal, vangloria-se das suas estatísticas brilhantes. Diariamente são produzidos 2,5 milhões de barris de petróleo bruto. A Nigéria é o oitavo exportador de petróleo do mundo. E se tudo correr de acordo com os desejos do ministro do Petróleo nigeriano, Diezani Alison-Madueke, até 2020 a produção poderá chegar aos quatro milhões de barris por dia.
Esperança depositada em Goodluck Jonathan
Juliette pega nas latas que um dos homens encheu. Deixa escapar que, normalmente, transporta quantidades maiores. "Tenho alguém que leva o querosene para Yenagoa", conta. Quanto ganha como intermediária, quando vem até à capital do estado de Bayelsa, a jovem não revela. Parece envergonhada. "Não tenho outra escolha. Não há mais nenhum trabalho para mim." No ano passado, a taxa de desemprego era de 23,9%, de acordo com a Agência Nacional de Estatísticas da Nigéria. Em comparação com anos anteriores, aumentou de forma constante.
No entanto, parece que as condições de vida poderiam mudar finalmente. Em abril de 2011, com a vitória de Goodluck Jonathan, foi a primeira vez que alguém do sul, do estado de Bayelsa, foi eleito presidente. Um vislumbre de esperança para muitas pessoas no Delta do Níger, que sempre se sentiram em desvantagem pela dominância do ex-primeiro-ministro, proveniente do norte do país. Juliette ri com algum desdém. "Sim, ele é de Bayelsa, mas não fez nada para nós. Basta olhar em volta", diz, apontando para o chão sujo de óleo. "Esses políticos prometem tudo, mas no final nada fazem."
Petrolíferas são as culpadas
No 13º andar do prédio do governo em Rivers, no estado vizinho de Bayelsa, ninguém quer ouvir as críticas. Okey C. Amadi é o ministro da Energia e também é o responsável pelos recursos naturais de Rivers. Para o governante, a resposta é clara: "Durante oito anos, fiz parte do Conselho Nacional. Sempre que surgia algo relacionado com a Shell, mas também com outras empresas petrolíferas, via-se que não estavam interessadas no bem-estar da população. Não queriam saber das pessoas aqui. As empresas só pensam nos seus negócios."
Apesar de tudo, Joshua e os seus colegas fixam-se nas empresas petrolíferas. "Deviam contratar-nos e pagar-nos corretamente", diz um dos produtores. Os outros homens concordam com ele. Joshua, entretanto, interrompe a discussão. Prefere pôr-se a caminho. Voltam a sair da refinaria escondida de lancha. Os homens afastam os ramos. A entrada é difícil de ver. Ainda assim, isso nem sempre ajuda, dizem. Em várias ocasiões, receberam a visita indesejada de polícias e soldados. "Eles queimaram tudo. Também já fomos presos." Quando perguntamos a Joshua como saiu da prisão, ele sorri: "Com algum dinheiro é possível. Estamos na Nigéria."