Corrupção nas estradas: exemplo "devia vir do topo"
20 de setembro de 2016Geraldo Wanga estava à espera da entrevista com a DW África, no município de Belas, na província de Luanda, quando recebeu um telefonema: Um jovem taxista ligou-lhe para fazer uma denúncia. Por coincidência, Wanga, presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), estava por perto.
"Há instantes, estavam aqui alguns agentes a efetuar uma operação para retirar as películas de cor preta [que tornam os vidros fumados]. Um jovem foi interpelado e solicitaram-lhe que retirasse a película. Depois de a retirar, foi-lhe solicitado um valor de 1500 kwanzas [8 euros] para reaver a sua documentação", conta o responsável. "Ele ligou para denunciar esta prática do agente."
Na semana passada, dois agentes foram expulsos da Polícia Nacional por incorrerem no crime de concussão, sendo acusados de coagirem automobilistas a entregar 1500 kwanzas sob pena de apreensão da documentação e viatura. E há uma semana, entraram em função quatrocentos novos efetivos da Unidade de Trânsito nas ruas da capital angolana, não só para regular a circulação rodoviária, mas também para combater a corrupção entre condutores e agentes da corporação. Uma semana depois, pouco ou nada parece ter alterado.
Segundo Geraldo Wanga, trata-se de uma prática instituída, difícil de mudar - "por mais que o taxista esteja devidamente legalizado, há sempre uma razão que levará o agente regulador de trânsito a incitar tal prática."
Ceticismo
"Não é a expulsão deste ou daquele agente que vai passar a mensagem de que a atuação mudou", comenta o jornalista Alexandre Neto Solombe. "Há 'vítimas' que têm sido afastadas da policia como único exemplo que é dado, mas eu penso que o maior exemplo viria do topo."
Sendo assim, os quatrocentos efetivos não trarão nada de novo, acredita Alexandre Neto Solombe: "Num país onde a corrupção é uma lei, vamos conseguir poucos efeitos com estas remodelações."
Geraldo Wanga, da associação de taxistas, reconhece os esforços da Polícia Nacional no combate à corrupção no seio da corporação, mas entende que muito ainda deve ser feito. "Há necessidade de um diálogo entre aqueles que são apontados como corruptos e corruptores", defende Wanga.