Costa do Marfim não terá novos nomes nas presidenciais
31 de agosto de 2020À medida em que se aproxima a primeira volta das eleições presidenciais de 31 de outubro, aumenta a tensão política na Costa do Marfim. Nas cidades e aldeias no leste e sul do país, os cidadãos não esconde a preocupação com a candidatura do atual Presidente Alassane Ouattara a um terceiro mandato.
A oficialização da candidatura do atual Presidente levou à violência interétnica em várias cidades de todo o país,resultando em pelo menos oito mortes. Ouattara, de 78 anos, e o ex-presidente Henri Konan Bédié - que esteve no poder entre 1993 e 1999 e está agora com 86 anos - são nomes fortes no primeiro turno da disputa eleitoral.
Segundo a agência AFP, organizadores das candidaturas do ex-presidente Laurent Gbagbo e do antigo líder rebelde e primeiro-ministro Guillaume Soro - ambos no estrangeiro e condenados pela justiça da Costa do Marfim - deverão insistir para que ambos possam concorrer. O prazo para os organizadores das candidatura rejeitadas apelarem para que a decisão judicial seja revertida se esgota nesta segunda-feira (31.08).
Muitos defendem que seria o momento de abrir espaço para novos nomes da política costa-marfinense. ''Ouattara já cumpriu dois mandatos. Bédié também já cumpriu dois mandatos. É melhor deixar espaço para os jovens comandarem o país'', defende um cidadão ouvido pela reportagem da DW África em Abidjan.
Tensão nas ruas
A Constituição da Costa do Marfim limita o número de mandatos presidenciais a dois, mas de acordo com a interpretação do Governo, tem o direito de se candidatar à reeleição porque a reforma constitucional de 2016 reiniciou do zero o calendário de mandatos presidenciais.
Essa dubiedade na interpretação das regras eleitorais no pais faz a candidatura de Alassane Ouattara bastante controversa. "Que se respeite um pouco a nossa bússola que é a Constituição da Costa do Marfim. Para um terceiro mandato, penso que é demasiado, diz um cidadão ouvindo pela DW na aldeia de Koun-Fao.
A população guarda na memória os trágicos conflitos pós-eleitorais de 2010 e 2011, que causaram 3 mil mortes pelo país. ''Rezamos a Deus para que as eleições corram bem. Não devemos ser mergulhados em conflitos como em 2010'', diz outro cidadão ouvido pela reportagem.
Com receios de violência e instabilidade política no decurso do processo eleitoral, Salla Ouattara, uma vendedora ambulante, está assustada e apreensiva com a situação.
"Os marfinenses têm medo, têm receio de tirar o seu dinheiro [do banco]. Porque não sabemos o que vai acontecer nas vésperas destas eleições. Portanto, perguntamos: vocês, políticos, o que nos vai acontecer? Se não comermos, não podemos votar”, questiona a ambulante.
Crise política desvia o foco
Enquanto os políticos estão com as atenções postas nas presidenciais de 31 de outubro, os cidadãos acham que a prioridade deveria ser investir na melhoria das condições de vidas das pessoas que vivem na pobreza.
O desemprego e a falta de infraestrutura castigam a população, principalmente nas regiões leste e sul do país. Aldeias sem água potável nem eletricidade complicam o quotidiano das comunidades. Sob o ponto de vista económico, o escoamento da produção agrícola continua a ser um desafio.
"Não há estradas. A estrada que liga Bondoukou a Abidjan, por exemplo, não é boa. De Agnibilékro a Bondoukou não há estrada. Ficámos no mato”, diz um agricultor de Bondoukou ouvido pela reportagem.