Alerta máximo não muda cotidiano de aglomerações em Maputo
12 de janeiro de 2021As autoridades sanitárias disseram que houve "relaxamento da sociedade” nas festas de fim de ano e lançaram"alerta máximo” em Moçambique devido ao aumento de infeções pelo país. Por outro lado, cidadãos ouvidos pela DW África nos mercados, terminais de transporte e em algumas repartições públicas reclamam que a desorganização dos serviços públicos e privados aumenta o risco de infeção.
As autoridades sanitárias identificaram aumento de 20% no número de infeções pelo novo coronavírus nos primeiros dias de janeiro. Moçambique registou nesta segunda-feira (12.01) 2.393 casos. O número de infetados aumentou em até dez vezes em algumas áreas.
No Instituto Nacional de Transportes Terrestres (INATTER), por exemplo, vários cidadãos aglomeram-se para tratar ou renovar carta de condução. Hélia Fondo está na fila e tenta cumprir com as regras de prevenção, mas não consegue.
"É um pouco complicado porque quando as pessoas ficam dispersas não ouvem nada do que se passa lá dentro. Então, as pessoas ficam aglomeradas para entender o que se está a passar. Cada um quer entender o seu caso e assim ficamos aglomerados. Afastamos um pouco mas é complicado”, desabafa a utente.
Um dos motivos para as aglomerações no INATTER é a oscilação do sistema informático que obriga os funcionários a paralisarem os trabalhos. E o cenário provoca uma verdadeira "enchente” de utentes a aguardar pelo atendimento. Cecília Djedje sabe que está exposta ao risco de contrair o coronavírus.
"É só ver como isto está, as pessoas não estão a obedecer o distanciamento social. Ali, todos estão amontoados na porta e assim torna-se uma situação difícil. Acabamos correndo riscos porque queremos entrar para termos o serviço”, explica.
Nesta terça-feira (12.01), a Direção Nacional de Identificação Civil deverá anunciar o encerramento destes serviços na cidade de Maputo, devido a enchentes nos balcões que podem propiciar a propagação do corona vírus.
O cotidiano nos "chapas”
Nos terminais de chapas, o cenário é preocupante. Nas filas para apanhar o transporte e mesmo no interior destes, não há distanciamento físico. Um "minibus” de 15 lugares deveria carregar três pessoas por assento, mas já estão a levar quatro passageiros para normalizar o lucro pelos serviço.
Os autocarros, que deviam cumprir com a metade da lotação, já deixaram de o fazer. José Orlando, vendedor informal, é utente do "chapa” e sabe dos riscos que corre. "O machibombo enche e não há distanciamento. Tenho medo [de contrair coronavírus], mas o que fazer? Tenho de apanhar chapa para casa. Tenho de vir aqui [na baixa da cidade] senão não tenho o que comer em casa”, lamenta.
A carência de transporte obriga os utentes a ignorarem as regras de prevenção. "É só usar mascara e álcool gel. Nos chapas não está fácil. Há enchentes, há carência de chapas, e tenho que pegar três chapas [para chegar ao centro da cidade], diz o segurança Vasco Macuvele.
O diretor Nacional de Assistência Médica, Ussene Issa, acredita que as pessoas perderam o medo da Covid-19. Ele sugere que se resgate o cumprimento das medidas de prevenção.
"Temos de continuar a trabalhar seriamente - quer a nível individual, quer a nível familiar, comunitário, da sociedade e das lideranças locais – para a mudança de comportamento, atitudes e prática, para não comprometer a resposta que o serviço nacional de saúde está a dar”, opina.