Covid-19 faz aumentar insegurança alimentar na África do Sul
15 de outubro de 2020Com a já crónica desigualdade social, a pandemia do novo coronavírus veio expor um outro mal que aflige a sociedade sul-africana: a insegurança alimentar.
A fome afeta agora cerca de 6,5 milhões de pessoas, revela o mais recente estudo da "Revisão Sistemática", que é a compilação dos resultados de vários estudos - um trabalho da ONG Cochrane Collaboration. Esses números que colocam a nu as desigualdades na terra de Nelson Mandela.
"O que mais me dói neste país são as desigualdades. Existem pessoas que vivem em um excesso de riqueza e outros que lutam pela comida", desabafa Naomi Betana da Coligação para a Justiça Witzemberg, um movimento social que trabalha nas áreas agrárias rurais de Paarl, na província do Cabo-Ocidental.
Segundo Betana, com a perda dos seus postos de trabalho, grande parte da população daquela região ficou desprovida de dinheiro para a compra de alimentos. Outros ficaram sem transporte para visitar os supermercados.
"Tem sido muito difícil. Tivemos filas de 200 a 250 pessoas nos nossos refeitórios. A maioria eram crianças e mães. As dificuldades aumentaram durante este tempo", conta.
Desigualdades sociais na pandemia
O confinamento obrigatório, que durou cerca de seis meses, exacerbou as desigualdades sociais e tornou-as mais visíveis, a nível nacional, devido ao drástico aumento da fome. O Governo introduziu cestas básicas e bolsas sociais equivalentes a 22 dólares por mês, mas tem havido casos de corrupção.
Entretanto, o número de crianças que beneficiam de uma refeição através do Programa Nacional de Nutrição na Escola aumentou em setembro. Mas segundo o Ministério da Educação, perto de dois milhões de alunos não estão a receber estes alimentos.
O programa beneficia cerca de nove milhões de crianças carenciadas. E em agosto, o Tribunal Superior de Gauteng ordenou a reintrodução do programa durante o confinamento obrigatório para aliviar a fome.
Tendai Mafuma, da ONG Section 27, que recorreu em conjunto com a ONG Equal Education, contra a suspensão da distribuição da comida aos alunos no tempo do confinamento, destaca: "O programa é na verdade concebido para aliviar a pobreza e para garantir que os alunos recebam algum tipo de nutrição".
De acordo com a ativista, "a comida da escola, em alguns casos, é a única refeição que uma criança pode conseguir" na África do Sul.
Mais de 19 mil escolas sul-africanas dependem do programa de alimentação do Governo.