Covid-19: Guiné-Bissau interdita eventos de massas
18 de março de 2020As restrições adotadas pelas autoridades guineenses como forma de prevenir o coronavírus podem causar um impacto negativo na economia, alerta economista. Uma das medidas que gera um certo conforto é a do fecho dos mercados informais do país a nível nacional, na medida em que a maioria da população não tem acesso à energia elétrica e nem frigoríficos para a conservação dos alimentos. Outros ainda reclamam a falta de poder de compra para compras a grosso.
O Governo de Nuno Nabian decidiu também interditar piscinas e praias e mesquitas, igrejas e outros locais de culto religioso às sextas-feiras, sábados e domingos. A igreja católica guineense já tinha anunciado a suspensão das missas e todas as atividades, que envolvam aglomeração de pessoas, incluindo ensaios de coro, no âmbito da prevenção à pandemia do novo coronavírus.
O Governo de Nuno Nabian determinou também o encerramento de escolas públicas e privadas, bares, restaurantes e barracas (lugares onde se pode comer e beber). No comunicado do Conselho de Ministros, o secretário de Estado do Desporto e da Juventude é designado para "encetar negociações com as federações desportivas para a suspensão de campeonatos nacionais e torneios".
A economista Udé Fati afirma que as medidas já tomadas terão forte impacto na economia dos guineenses, principalmente dos pequenos comerciantes.
"Nós sabemos que quando não há compra e venda, não há demanda, há baixa da produtividade económica, e essa baixa da produtividade económica atinge a vida das famílias e em primeira mão, no nosso caso vai atingir as pessoas que estão em pequenos comércios, também do comércio ambulante”, nota a economista.
E Udé Fati alerta ainda que "as famílias vão ter dificuldades em ter o mínimo necessário para garantir uma vida, isto sobretudo o mais agravante ainda é que na Guiné-Bissau não temos essa capacidade financeira que nos permita estocar os bens, mas também de fazer poupança, e sem essa capacidade de poupança a pessoa não tem a maneira de comprar comida para guardar para muito tempo”.
Guiné-Bissau não está preparada para o Covid-19
Apesar das medidas anunciadas, a Guiné-Bissau não conta com um laboratório para testes às pessoas, uma situação que levou o médico Hedwis Martins a considerar que o país não está preparado para lidar com a pandemia.
"O nosso sistema de saúde não está preparado, muito menos para o paludismo e ainda mais para o coronavírus. Temos um sistema de saúde que ainda não tem uma cobertura total para toda a populaçã. Ainda há distância de 50, 70 e 100 quilómetros entre as aldeias e uma unidade hospitalar ou centro de saúde, a maioria dos habitantes dessas aldeias recorrem à medicina natural e tradiciona. Temos carência em grande número de médicos clínicos, de médicos infetologistas, de médicos especialistas em diferentes matérias” lembra o médico.
Mas, à saída de uma reunião do Conselho de Ministros, do Governo de Nuno Nabiam, Umaro Sissoco Embaló, declarado como Presidente da Guiné-Bissau pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), disse que há uma brigada médica cubana disponível para "atuar” no país, sem explicar, no entanto, em que moldes.
"Dizemos as pessoas para ficarem em casa e evitar a aglomeração. Uma brigada médica cubana já está disponível para atuar, e vocês órgãos de comunicação social têm um papel fundamental de dizer as pessoas que temos que deixar as nossas guerras e unirmos em torno deste inimigo, que é coronavírus”, disse Sissoco.
O Governo de Nuno Nabian determinou igualmente a suspensão das reuniões do Conselho de Ministros e instruiu a Comissão Interministerial de Acompanhamento e Prevenção do Coronavírus para criar instalações para funcionarem como centros de quarentena em caso de necessidade.
Medidas não estão a ser cumpridas
E as fronteiras da Guiné-Bissau com o Senegal e Guiné-Conacri, dois países com casos confirmados de coronavírus, deviam estar encerradas a partir desta quarta-feira (18.03), conforme anunciou Sissoco Embaló, mas a DW África falou com um jornalista residente na linha de fronteira com Senegal, em São Domingos, norte da Guiné-Bissau, que confirmou que a medida não está a ser executada e que continuam a verificar a entrada e saída das pessoas, naquela localidade.
Mas na zona leste, na linha de fronteira com a Guiné-Conacri, a situação é diferente, como refere um residente local, confirmando a interdição da entrada e saída das pessoas.
Entretanto, conhecendo as debilidades das fronteiras guineenses, o jornalista guineense, Geraldo Suleimane Camará, residente em Gabú, no leste do país, zona que tem dois postos fronteiriços com a Guiné-Conacri, disse que é difícil manter controlo naquelas áreas.
"Há vias clandestinas usadas pelas pessoas que correm do fisco. Nesta altura em que se fala do fecho das fronteiras é ainda mais difícil controlar. No caso de Boé (um dos setores de Gabú), que não tem quase controlo todas das fronteiras, porque a própria Guarda Nacional colocada aí tem pouco número de efetivos para dar cobertura nessa zona”, conta Camará.
Portas trancadas na Guiné-Bissau
Desde a semana passada, várias associações de jovens e organizações não governamentais estão a desencadear as atividades de sensibilização junto das comunidades, numa altura em que as escolas públicas e privadas se encontram encerradas, obedecendo as medidas do Executivo de Nabiam.
As autoridades guineenses anunciaram também o encerramento das fronteiras terrestres, marítimas e aéreas, com "ressalva para questões humanitárias", nomeadamente evacuações médicas, abastecimento de medicamentos e para importações de bens alimentares de primeira necessidade.
Paralelamente às medidas de prevenção anunciadas pelas autoridades guineenses, os comerciantes começaram a aumentar o preço de bens essenciais, como o arroz (base alimentar dos guineenses), açúcar, óleo, batata e sabão.