Covid-19: Menores de Nampula relatam abusos da polícia
16 de junho de 2020Na província moçambicana de Nampula, as crianças estão desapontadas com a atuação policial, a quem que acusam de detenções arbitrárias e extorsões para suposta soltura. Muitos dos menores têm sido detidos nas ruas enquanto vendem os seus produtos, na sua maioria alimentares.
Atija Selemane tem 14 anos e à DW conta que tinha sido detida na sua própria residência, alegadamente por não ter usado máscara de proteção e deplora a atitude da polícia.
"Eu estava em casa e apareceram dois agentes da polícia que me disseram que eu estava presa porque me encontraram num lugar público sem máscara. E eu disse que aquele não era lugar público, mas sim a minha casa. Levaram-me até à estrada e eu acabei chamando a minha cunhada. Eles pediram-me que lhes oferecesse o dinheiro que eu tinha e eu dispunha de 55 meticais [menos de 1 euro]. Eles levaram-me até perto do mercado e insistiram em pedir dinheiro, neste caso 200 meticais [cerca de 2,5 euros], para me soltarem”, relata a menina de 14 anos.
Violência policial
Um outro problema é a violência policial contra os menores. Toma Fernando tem 17 anos, idade que em Moçambique ainda é considerada de menor. À DW disse que na semana passada fora surpreendido por agentes da Polícia em pleno exercício comercial onde terá sido violentado, alegadamente por não ter usado a máscara de proteção.
"Na passada sexta-feira (12.06), enquanto eu atendia os meus clientes, a polícia chegou e começou a violentar-me e chegou a quebrar-me três dentes. E, também, acabei perdendo o meu dinheiro, cerca de 900 meticais [cerca de 1 euros] e um telemóvel”, descreve.
Tomas Fernando conta que até ao momento não beneficiou de algum cuidado medido porque o hospital lhe negou o direito de assistência médica. "Quando cheguei ao hospital não me atenderam, disseram que já não se extrai dentes porque a prioridade é o coronavírus e tinha de pagar um técnico qualquer para me tratar em minha casa”, conta o rapaz de 17 anos.
Polícia nega
Já a Polícia da República de Moçambique, através do seu porta-voz na província de Nampula, Zacarias Nacute, nega todas as acusações e considera as alegações como forma de justificar os desacatos ao decreto presidencial. Ainda assim, Nacute incentiva a denúncia aos agentes envolvidos nos casos.
"Havendo situações desta natureza, as pessoas devem aproximar a polícia e fazerem denúncia. Eu duvido muito que essas pessoas aí sejam mesmo vítimas. Se existem mesmo polícias, que por alguma razão, [atuem] fora daquilo que está dentro dos parâmetros da Polícia da República de Moçambique, devem ser denunciados para que a Polícia possa tomar medidas”, disse.