Covid-19: Moçambicanos em risco de despejo na África do Sul
4 de maio de 2020Por causa da crise da Covid-19, cerca de 16% dos inquilinos na África do Sul não pagaram a renda referente ao mês de abril, segundo a organização não-governamental sul-africana "Rede do Perfil do Inquilino". A previsão para o mês de maio é de agravamento do número, devido ao desemprego causado pelo novo coronavírus e pelo confinamento obrigatório.
O Governo sul-africano proibiu despejos em tempo de crise, mas vários proprietários de residências já enviaram cartas de aviso aos seus inquilinos.
Joana Muthemba, uma moçambicana radicada na África do Sul, conta à DW África que não consegue pagar a renda pelo segundo mês consecutivo, e recebeu uma dessas cartas.
"Os donos da casa mandaram-me uma carta de aviso para que pague o mais urgente possível a renda e com multas. Dizem que, se eu não cumprir, irão me mandar embora da casa. Estou a pedir ajuda, porque não sei o que fazer."
Como regressar a Moçambique?
O regresso definitivo a Moçambique é uma medida cogitada pela moçambicana Amélia Matusse. Pede ao Presidente Filipe Nyusi "transporte ou alguma coisa" que ajude no regresso ao país natal.
"O dinheiro [dívida da renda] está a acumular-se, a gente não tem dinheiro, não sabemos como é que vamos pagar. Quando isto acabar só quero ir para casa. Cansei de sofrer aqui."
Prevê-se que, por causa da crise, a taxa de desemprego na África do Sul ultrapasse os 29%, registados antes da pandemia.
O eletricista moçambicano Josefa Machaque está desesperado devido à falta de trabalho nos últimos tempos.
"Nós estamos aqui à base do trabalho, agora fechamos o trabalho e não temos nada para fazer. É só trancarmo-nos em casa e a alimentação acaba, e os donos da casa também querem o dinheiro para pagar a renda".
Minas vão reabrir
A África do Sul já registou mais de 6.700 casos de Covid-19, e 131 mortes. O país transitou a 1 de maio do nível de alerta 5 para o 4: algumas restrições foram levantadas, e a economia está a reabrir de forma faseada - é o caso de fábricas e minas, que podem voltar a funcionar com um terço dos empregados.
O Tesouro Nacional da África do Sul estima este ano uma quebra na economia na ordem dos 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB).
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, anunciou entretanto um pacote de ajuda de 26 mil milhões de dólares para apoiar os trabalhadores do setor informal.
O Governo prevê também reabrir as escolas paulatinamente, a partir de 1 de junho. Mas há quem tema as consequências de um levantamento demasiado brusco das medidas de contenção contra o novo coronavírus. Uma providência cautelar movida por duas ONG é ouvida esta terça-feira (05.05) no Tribunal Superior de Polokwane, para prevenir o regresso às aulas durante o nível 4 do confinamento obrigatório.