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Covid-19: Terceira vaga e excessos policiais na Guiné-Bissau

Iancuba Dansó (Bissau)
18 de agosto de 2021

A Guiné-Bissau recebeu hoje cerca de 29 mil doses de vacina AstraZeneca. Pandemia já causou 94 mortes no país, que vive em estado de calamidade e entre denúncias de violações dos direitos humanos pelas forças da ordem.

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Magda Robalo, Alta Comissária para a Covid-19 (centro), e Simona Schlede, chefe da Cooperação da União Europeia em BissauFoto: Iancuba Dansó/DW

No início do mês, a Guiné-Bissau recebeu dos Estados Unidos da América (EUA) mais de 300 mil doses da vacina Johnson&Johnson. Esta quarta-feira (18.08), a Suécia, através da iniciativa Covax, ofereceu cerca de 29 mil doses de AstraZeneca ao país.

As vacinas chegam numa altura em que o país atravessa uma terceira vaga da pandemia de Covid-19 que está a preocupar as autoridades, devido ao número de vítimas mortais - muitas com morte súbita, principalmente em Bissau, um fenómeno que ainda não foi explicado oficialmente.

A situação dramática foi revelada à DW África pela Alta Comissária para a Covid-19, Magda Robalo. "Na semana passada, a Guiné-Bissau registou 11 óbitos, situação que nunca tinha acontecido, desde o início da pandemia. Também na semana passada, tivemos o mais alto número de novos casos de infeção."

Segundo Magda Robalo, "tem sido uma terceira vaga muito forte e que está a condicionar o funcionamento das instituições de saúde."

Forças da ordem intransigentes

O estado de calamidade foi prolongado até 28 de agosto, como forma de prevenir a propagação da pandemia da Covid-19. São proibidas as aglomerações que ultrapassem 25 pessoas e o uso da máscara é obrigatório para todos.

Guinea-Bissau Botche Candé, Ex-Innenminister
Botche Candé, ministro do InteriorFoto: DW/F. Tchumá

O ministro do Interior, Botche Candé, anunciou que as forças da ordem vão ser intransigentes para fazer cumprir as medidas de prevenção. "Chegamos a um ponto e entendemos que a tolerância é zero e é zero. Não podemos permitir que ninguém, na Guiné-Bissau, saia da sua casa sem o uso da máscara. E estamos a assistir a várias mortes no país [por Covid-19]", sublinhou.

No entanto, para o presidente da Rede Nacional das Associações Juvenis (RENAJ), Seco Duarte Nhaga, os polícias devem ser mais pedagógicos. "Os cidadãos devem usar a máscara, devem manter o distanciamento físico, mas, por outro lado, as autoridades devem tentar humanizar essas medidas, tentar acomodar algumas necessidades dos cidadãos e não entrar em choque e em violência com os cidadãos, ao ponto de pôr em causa outros direitos", recomenda.

Excessos policiais

O Ministério do Interior leva a sério a prevenção nesta terceira vaga da Covid-19 na Guiné-Bissau. A entidade governamental responsável pela segurança colocou nas ruas de todo o país cerca de dois mil efetivos.

Um número exagerado, na opinião do presidente da Rede Nacional dos Defensores dos Direitos Humanos, Fodé Mané. "São desproporcionais os números de efetivos que estão colocados só para controlar o uso da máscara, cria uma imagem de terror e de medo, quando nesta situação o que se deve fazer é usar as pessoas para tentar sensibilizar as outras a usarem a máscara", defende.

Guinea-Bissau | Hauptsitz der Hohen Kommission für Covid-19 in Bissau.
Sede do Alto Comissariado para a Covid-19 em BissauFoto: Iancuba Dansó/DW

Na passada segunda-feira (16.08), um cidadão nacional denunciou ter sido espancado por agentes policiais, alegadamente por não ter usado máscara. Os suspeitos já foram ouvidos pela Polícia Judiciária (PJ).

Nos últimos tempos, a sociedade civil tem apontado os governantes, principalmente o ministro Botche Candé, como responsável pelo incumprimento das medidas de prevenção, ao realizar, nas últimas semanas, várias atividades políticas, que culminaram com comícios.

Ainda assim, a Alta Comissária para a Covid-19 está otimista quanto ao respeito pelas regras estabelecidas neste período. "Foram suspensos os campeonatos, as reuniões, manifestações e comícios estão condicionados. E esperamos, de facto, que a população possa cumprir. Estamos a ver uma afluência maior aos postos de vacinação, o que significa que as pessoas estão mais sensibilizadas pelo facto de estarmos a viver a terceira vaga", conclui Magda Robalo.

Guiné-Bissau: Vacinação contra a Covid-19 com greve na Saúde