Covid-19: Vacinação decorre em diferentes ritmos nos PALOP
23 de abril de 2021Um pouco por todo o mundo os processos de vacinação contra a Covid-19 têm tido percursos conturbados entre suspensões, efeitos colaterais, falta de vacinas suficientes e atrasos na produção. Se no Reino Unido ou nos EUA a vacinação segue a todo o vapor, há países, nomeadamente em África, que ainda não receberam nenhuma dose do imunizante.
Moçambique, depois da primeira fase do plano de vacinação contra a Covid-19, que decorreu de 8 de março a 16 de abril, deu início esta semana à segunda fase. O objetivo é chegar a mais, pelo menos, 216 mil pessoas.
Segundo Graça Matsinhe, diretora do Programa Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde (MISAU), a aceitação da vacina tem sido boa tendo o país conseguido na primeira fase uma cobertura de 84% dos grupos prioritários previstos.
"A nossa avaliação é positiva. Claro que houve desafios ao longo do processo que tinham que ver com a questão de haver um conhecimento limitado a nível dos nossos beneficiários em relação à vacina que fez com que de alguma forma e em algumas situações isso levasse a algumas recusas. Mas, de uma forma geral, consideramos que tendo em conta a proporção de pessoas que aceitou a vacina comparativamente com as recusas é um número mínimo", explica.
Astrazeneca levanta preocupações
Moçambique recebeu 200 mil doses de vacinas da China, 100 mil da Índia e 384 mil doses da vacina da Astrazeneca através da iniciativa da OMS, Covax.
Graça Matsinhe diz que há alguma preocupação por parte da sociedade moçambicana quanto à vacina que tem sido suspensa em vários países, mas em Moçambique a indicação não vai nesse sentido.
"Como país, nós temos um comité técnico-científico que recomenda o Ministro da Saúde e este comité recomendou e continua a recomendar a vacina da Astrazeneca. Essa recomendação do comité técnico-científico é suportada pela recomendação da Organização Mundial da Saúde e pela Agência Europeia de Medicamentos. Portanto ainda não temos nenhuma orientação contrária que nos faça recuar em relação à utilização da vacina", justifica Graça Matsinhe.
Quanto ao impacto do processo de vacinação no país, Matsinhe sublinha que é "muito prematuro" tirar ilações. "Há muitas lições que foram aprendidas e serviram para apoiar o processo de planificação desta segunda fase e das fases subsequentes".
Angola à frente no espaço lusófono
Angola foi o terceiro país em África e o primeiro no espaço lusófono a receber vacinas anti-Covid da iniciativa Covax. Recebeu, a 2 de março, 624 mil doses da vacina da Astrazeneca e, desde então, já foram vacinadas mais de 380 mil pessoas, com prioridade para os profissionais de saúde.
O país recebeu ainda uma doação chinesa de 200 mil doses de vacinas Sinopharm e o governo pretende adquirir mais seis milhões de doses da vacina Sputnik V, produzida na Rússia, num investimento de 111 milhões de dólares (94 milhões de euros).
Já na Guiné-Bissau o ritmo é outro. A vacinação só começou no início deste mês, a 2 de abril, e as primeiras 12 mil doses esgotaram-se no prazo de uma semana, explica Magda Robalo, Alta Comissária para a Covid-19.
"Nós ainda estamos na primeira fase que é a fase em que deveríamos poder vacinar 3% da população, que corresponde aos grupos prioritários da linha da frente, que são os técnicos de saúde. Nós tínhamos 12 mil doses de vacinas recebidas da Africa CDC, através da União Africana, e foram essas doses que constituíram a primeira ronda e que nos permitiu, com taxas de perda que ainda estamos a estimar, vacinar entre 10 mil a 12 mil pessoas".
Reforço de vacina da Covax
Entretanto a Guiné-Bissau já recebeu um reforço de vacinas que chegaram da iniciativa Covax. Mas, devido à suspensão da distribuição da vacina da Astrazeneca pelo maior produtor, o Instituto Serum da Índia, o país só recebeu até agora 28.800 doses das 120 mil doses previstas.
"Estamos a preparar a segunda fase da campanha que deverá começar ainda este mês ou na primeira semana de maio, mas sempre com limitações porque não temos as vacinas necessárias para avançar em pleno com a vacinação de 20% dos grupos de risco", frisa Magda Robalo.
As desconfianças em relação à vacina da Astrazeneca não são exceção na Guiné-Bissau e combater o negacionismo e a resistência à vacinação são um desafio. Também a greve generalizada no país e a desinformação constituem entraves ao processo.
"Ainda no domínio dos desafios temos a aproximação da época das chuvas que torna toda a logística muito mais complicada tendo em conta as infraestruturas rodoviárias que são bastante deficitárias. A par da comunicação que precisa ser intensificada no sentido do combate ao rumor e à desinformação, temos os aspetos relacionados com os recursos humanos e com a logística da implementação da campanha", conclui.
Em Cabo Verde, passado pouco mais de um mês do arranque do plano de vacinação, o processo decorre sem grandes sobressaltos e mais de 8 mil pessoas já foram vacinadas. O arquipélago recebeu mais de 5 mil doses da Pfizer e 24.000 doses da vacina da AstraZeneca num total de 108 mil prometidos pela Covax. O governo tem como meta conseguir vacinar 70% da população até final do ano.
Cabo Verde registou nos últimos dias um aumento exponencial de novos casos de infeção por Covid-19 e figura-se atualmente entre os países africanos com maior taxa de incidência por cada 100 mil habitantes.
Em São Tomé, a campanha de vacinação contra a Covid-19 teve início no dia 15 de março tendo o país recebido 24 mil doses da vacina da Astrazeneca. A primeira fase do plano de vacinação ficou concluída no início deste mês com mais de 12 mil cidadãos dos grupos prioritários já vacinados.