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Bissau: 400 famílias carenciadas recebem alimentos

16 de abril de 2020

Na Guiné-Bissau, um grupo de voluntários pôs mãos à obra para ajudar pessoas que estão a passar por dificuldades devido ao estado de emergência. 400 famílias receberam produtos alimentares e sabão na primeira fase.

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Foto: DW/T. Fome

Devido ao estado de emergência em vigor na Guiné-Bissau para conter a propagação do novo coronavírus, várias famílias que vivem do comércio informal estão a passar por grandes dificuldades.

Muitas pessoas estão a passar fome no interior do país e nos bairros periféricos de Bissau, segundo ativistas da sociedade civil, e o apoio do Estado tarda em chegar. Por isso, um grupo de voluntários lançou a iniciativa "Tadja Fome", que significa em português "Evitemos a Fome".

Em duas semanas, os voluntários angariaram produtos alimentares suficientes para distribuir uma cesta básica a cerca de 3 mil pessoas em Bissau, contou à DW África o coordenador da iniciativa, Saturnino de Oliveira.

Guinea-Bissau Saturnino de Oliveira, Aktivist
Ativista guineense Saturnino de OliveiraFoto: DW/B. Darame

DW África: Qual é o balanço que se pode fazer dos trabalhos da iniciativa "Tadja Fome", que termina esta quinta-feira (16.04)?

Saturnino de Oliveira (SO): O balanço é positivo, uma vez que conseguimos atingir a nossa meta de apoiar 400 famílias, com uma média de 7 pessoas cada, totalizando 2.800 pessoas beneficiadas. É um balanço excelente, alcançado no tempo recorde de duas semanas. Foi nesse período que conseguimos angariar os donativos que pusemos à disposição das famílias mais vulneráveis. 

DW África: Que bens alimentares receberam essas famílias?  

SO: Cada família recebeu 25kg de arroz, 2kg de cebola, sardinhas, 1 litro de vinagre, 2 litros de óleo e uma barra de sabão para juntar à parte alimentar, com a sensibilização de higiene que estamos a fazer para a prevenção da covid-19. 

DW África: Quais foram os critérios de seleção das zonas beneficiadas? 

SO: O critério que nos fez escolher os bairros de Gabú-Sinho, Cuntum Madina, Plack-1 e Plack-2 levou em conta a distância desses bairros com a zona do centro comercial da cidade de Bissau. Falo das zonas de negócios do mercado de Bandim, Chapa e Caracol. Sabendo que está em vigor o estado de emergência, os moradores dos bairros mais distantes do centro de Bissau ficam ainda mais vulneráveis e têm mais dificuldades de acesso aos bens alimentares, visto que temos o impedimento total da circulação dos transportes públicos. É essa a razão que nos fez levar a cesta básica a esses bairros periféricos da capital Bissau, fortemente habitados.

Guinea Bissau Afrika Ernährung Hunger Coronavirus
Produtos alimentares doados foram entregues por voluntários a famílias carenciadas em BissauFoto: DW/T. Fome

DW África: E como escolheram as famílias a quem entregaram as doações? 

SO: A escolha das famílias mais cadenciadas fez-se através de um critério que toma em conta as famílias que são lideradas ou sustentadas por uma mulher, a família que tem pessoas com algum tipo de deficiência, as pessoas que têm famílias com crianças menores de 12 anos e famílias com pessoa vulneráveis ao coronavírus, que são pessoas idosas ou têm alguma doença crónica. Depois de estabelecidos esses critérios, fizemos uma ficha de identificação das famílias. Essas fichas foram entregues à associação dos moradores dos respetivos bairros e a alguns jovens da academia Ubuntu, que vivem nesses bairros e são pessoas que conhecem melhor os seus bairros e as comunidades onde residem. Criámos um programa que pontua as famílias de acordo com esses critérios e assim foram filtradas as 100 famílias de cada bairro, que totalizam 400 famílias de quatro bairros. 

DW África: Quem são os guineenses que fizeram doações para as famílias que estão a passar por esta situação difícil?  

SO: A maior parte das doações foi de pessoas singulares, cidadãos de boa vontade que souberam da iniciativa através dos contactos divulgados nas redes sociais, rádios e na televisão. Além dessas pessoas, tivemos apoio da empresa Petromar, que foi a única empresa que fez uma doação. De resto, tivemos apoios de pessoas da diáspora, de duas iniciativas em particular de guineenses que estão fora da Guiné-Bissau, que decidiram juntar-se a nós para podermos atingir esse objetivo de beneficiar 400 famílias, nesta primeira fase. 

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DW África: Haverá uma segunda fase? Como será a próxima etapa? 

SO: Já estamos a projetar a segunda fase, mas, antes de avançar, queremos concluir o relatório da primeira fase e divulgá-lo e, depois, iremos apresentar o plano para a segunda fase, que vai ser no interior do país. A nossa meta desta vez é maior. Queremos beneficiar 1.200 famílias de três províncias da Guiné-Bissau, no norte, sul e leste.  

DW África: Teme-se que as consequências da crise pós-Covid-19 sejam dramáticas para as famílias guineenses. Há indicações disso no terreno? 

SO: Essa foi a razão principal do surgimento da iniciativa "Tadja Fome" ("Evitemos a Fome"), justamente por termos constatado que a maior parte das famílias vive diariamente de pequenos negócios informais que fazem para poder comprar comida. Com a declaração do estado de emergência, com a restrição de circulação, com horários definidos para estar na rua, devido à necessidade de confinamento das pessoas, a maior parte das famílias está a ter dificuldades em ter acesso aos produtos alimentares. A título de exemplo disso, depois de lançarmos a iniciativa, recebemos no mesmo dia chamadas de pessoas relatando a situação de fome que estão a viver, da escassez total de stock de produtos alimentares e que demonstram uma necessidade urgente de serem apoiadas com produtos alimentares, já que não têm outra forma de conseguir autossustento num momento de estado de emergência. No terreno também constatámos isso. Mas infelizmente a iniciativa não tem possibilidades de apoiar um maior número de pessoas. O nosso desejo era poder apoiar todas as pessoas. Vemos na cara das pessoas, que infelizmente não foram beneficiadas, que estavam mesmo a precisar de bens alimentares. Esta situação, enquanto voluntários, incomoda-nos e deixa-nos tristes, porque é verdade que já há famílias que estão a passar por dificuldades de fome. 

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