Conflito entre Ruanda e RDC mediado por João Lourenço
1 de junho de 2022O Presidente de Angola, João Lourenço, debateu esta terça-feira (31.05) em Luanda com o seu homólogo da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi, a "crescente tensão" entre este país e o vizinho Ruanda, anunciou a Presidência angolana em comunicado.
No encontro "foram discutidos vários aspetos que podem contribuir para a resolução pacífica do diferendo entre os dois países", avança o comunicado. "Neste sentido (...) Félix-Antoine Tshisekedi (...) a pedido do seu homólogo angolano, aceitou libertar dois soldados ruandeses capturados recentemente", acrescenta a Presidência angolana, explicando que "esta diligência visa contribuir para a redução da tensão que paira na relação entre os dois países referidos".
O comunicado refere ainda que na sequência da reunião com o líder da RDC, João Lourenço, na sua qualidade de presidente da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), manteve durante a tarde "uma conversa, por videoconferência" com o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, "durante a qual foram discutidos os mesmos aspetos abordados com o seu homólogo da RDC".
"Estas discussões permitiram aos dois chefes de Estado chegar a um entendimento sobre a realização em Luanda, em data a anunciar proximamente, de uma cimeira em que participarão, a convite do chefe de Estado angolano, os chefes de Estado da República Democrática do Congo e da República do Ruanda, a fim de cuidarem de todos os aspectos que possam ajudar, de forma consistente, a promover o desanuviamento da tensão atualmente reinante na fronteira entre os dois países e contribuir assim para o reforço da paz na sub-região", conclui a nota.
Tensão crescente
A tensão entre o Ruanda e a RDC aumentou nos últimos dias. Kigali diz que mísseis congoleses feriram pessoas em território ruandês. Já Kinshasa acusa o Ruanda de cumplicidade com os rebeldes do M23. O conflito entre os dois países é antigo.
Em entrevista à DW, Blaise Ndola, que é responsável no projeto União Europeia-Grandes Lagos da Fundação Konrad Adenauer, diz que é preciso envolver os jovens.
"Estamos convencidos de que a juventude é uma força e se a juventude da sub-região dos Grandes Lagos tentasse unir-se, dialogar, encontrar soluções para os problemas que enfrenta, mesmo que não sejam os tomadores de decisão, mas se conseguirem encontrar soluções, poderiam influenciar os decisores e podemos esperar uma paz duradoura na região dos Grandes Lagos", avalia.
As relações entre Kinshasa e Kigali têm sido difíceis desde o genocídio ruandês de 1994, com a chegada em massa à RDC de hutus ruandeses acusados de terem massacrado tutsis. Em 2019, as relações acalmaram-se depois de Felix Tshisekedi chegar ao poder, mas o ressurgimento do M23 reacendeu as tensões.
Em janeiro, a Fundação Konrad Adenauer lançou um projeto chamado Rede de Jovens dos Grandes Lagos para o Diálogo e a Paz. Cerca de 80 associações de jovens do Ruanda, RDC, Burundi, Uganda e Tanzânia participaram na iniciativa.
Solução para a região
Hillaire Aganze Maeshe é um dos ativistas que há mais de uma década trabalha com jovens para a promoção da paz. Para ele, também é na força da juventude que reside a solução para os problemas da região dos Grandes Lagos.
"Certamente estamos em crise, mas temos uma juventude consciente e informada sobre as questões, uma juventude que não é facilmente manipulável e que prioriza as pessoas em primeiro lugar. Atualmente posso contar milhares de pessoas que hoje em dia fazem parte desta família e que estão no Ruanda, Burundi, Uganda, e acho que não temos nenhum problema. Tentamos aproximar-nos para encontrar soluções juntos", apela o ativista.
Já para o jovem Paria Nzego, a arte faz parte da solução para os problemas da região. "A arte une-nos! Quando nos encontrarmos em torno de uma mesa a falar sobre arte, haverá um momento em que finalmente seremos um só".