Crianças na Somália recrutadas como soldados, alerta Amnistia Internacional
20 de julho de 2011A seca na Somália veio agravar os problemas que já se viviam no país. Há 20 anos que a Somália é palco de uma guerra civil, que deflagrou depois da saída do presidente Mohamed Siad Barre, em 1991.
A Amnistia Internacional analisou mais de 200 testemunhos de refugiados somalis. Um desses depoimentos é de um rapaz de 15 anos, que fugiu da capital da Somália, Mogadíscio, em janeiro de 2010, e que conta à Amnistia que os rebeldes do grupo Al-Shabaab raptaram o seu irmão, quando ele tinha oito anos: “Foi raptado quando estava a jogar futebol. Fomos para o sítio onde sabemos que eles os obrigam a combater e encontrámos lá o seu corpo”.
De acordo com o relatório da organização não-governamental, tanto o Governo Federal de Transição, apoiado internacionalmente, como os rebeldes islamistas do grupo Al Shabaab têm sido acusados de recrutar crianças.
Benedicte Goderiaux, investigadora da Amnistia para a Somália e autora do relatório, diz que “as crianças são recrutadas para se tornarem soldados nas forças dos grupos armados, e em particular do grupo Al-Shabaab”. De acordo com a investigadora, crianças com oito anos têm sido recrutadas pelos grupos armados “e, nalgumas áreas, isso tem-se tornado quase sistemático”.
Métodos de recrutamento
Para recrutar estas crianças, os grupos armados recorrem a vários métodos, conta Goderiaux.
“As crianças têm sido recrutadas com promessas de que vão receber um telemóvel, por exemplo. Mas também têm sido forçadas – raptadas em áreas públicas, nas ruas. Nas escolas, os grupos armados fazem esperas para levar as crianças e usá-las como soldados. É uma situação intolerável para as crianças”.
Enquanto os rapazes são recrutados para a luta armada, há também raparigas que serão recrutadas para cozinhar, fazer limpezas ou carregar armas, refere o relatório da Amnistia. Algumas delas serão forçadas a casar com os homens armados.
Solução
Benedicte Goderiaux lembra que a crise humanitária que aparece hoje nos títulos dos jornais não é só de agora. Tal como não são só de agora os crimes de guerra contra as crianças somalis. Porque é que não foi feito nada até agora?
A ivestigadora sugere uma explicação: “Isto acontece e tem-se prolongado por tanto tempo porque nada tem sido feito para responsabilizar os culpados destes crimes de guerra” Segundo Goderiaux, a Somália tem estado em conflito nos últimos vinte anos e “a comunidade internacional tem continuado a ignorar os crimes de guerra que têm sido cometidos no país. A não ser que alguma coisa seja feita, esta situação vai continuar”.
Autor: Guilherme Correia da Silva
Edição: António Rocha