Queda do preço do petróleo aumentou a repressão em Angola
9 de junho de 2015Segundo a revista The Economist, a queda do preço do petróleo aumentou a repressão e as disparidades em Angola. A resposta do Governo de José Eduardo dos Santos à desaceleração da economia foi o lançamento da "maior campanha de propaganda desde os tempos coloniais”. Para os analistas da revista britânica, isto serve de máscara para as "enormes desigualdades entre as elites e o resto da população do país.”
Sebastien Marlier é economista e especialista em assuntos africanos na Economist Intelligence Unit, e considera que a situação é bastante mais complexa, e que a repressão sempre esteve presente em Angola.
“O governo angolano nunca reagiu bem a críticas, protestos ou tudo o que possa ameaçar a sua hegemonia. Com a crise do preço do petróleo aumentou o descontentamento da população devido ao enfraquecimento da economia e aumentou a consciência de que a maioria dos lucros petrolíferos vai apenas para as elites.”
Segundo o economista, casos como Rafael Marques ou Kalupeteka não estão diretamente ligados ao atual contexto económico, mas as dificuldades têm pressionado o governo angolano, que tem reagido através desta maior repressão.
Marlier afirma que Angola foi gravemente afetada por esta descida do preço do petróleo, tanto a curto como a médio prazo.
“A economia angolana foi bastante afetada por esta crise. Angola depende muito do petróleo e por isso o crescimento económico abrandou, o kwanza enfraqueceu e a dívida pública aumentou. As perspetivas a médio prazo também estão ameaçadas. Vai ser mais difícil diversificar a economia agora que há menos dinheiro para investir noutros setores”, afirma o especialista.
Presidente em visita oficial à China para reforçar a cooperação
O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, encontra-se na China, numa visita oficial de 6 dias que tem o intuito de reforçar a cooperação bilateral entre os dois países. Sebastien Marlier vê esta visita como uma forma de Angola tentar superar a crise do setor económico sem ter de recorrer a organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“A China é o maior comprador do petróleo angolano e é também o maior credor do país. Penso que neste visita o Presidente vai tentar expandir a relação entre os dois países para além do petróleo. Em 2009 houve outra crise petrolífera e Angola recorreu à China para evitar ter de pedir ajuda ao FMI, e penso que isso pode acontecer de novo”, diz o economista.
Angola é o segundo maior produtor petrolífero da África subsariana, e a sua economia é altamente dependente deste produto. A descida nos preços do petróleo teve efeitos económicos muito negativos no país. Espera-se que este ano o crescimento do PIB seja de apenas 3%, em comparação com os 6.8% de 2013.