Crise do petróleo em Angola afeta empresas portuguesas
8 de novembro de 2016A escassos quilómetros de Lisboa - no concelho de Loures - está uma das unidades da FARMAKA, empresa que atua no fornecimento de produtos hospitalares. A empresa, integrada no parque industrial de Frielas, é uma das dez maiores exportadoras portuguesas para Angola afetadas pela baixa do preço do petróleo. Chegando ao local pelas 11 horas, praticamente não havia movimentação no armazém onde são depositados os produtos destinados ao mercado angolano.
A crise financeira em Angola, que foi provocada pela queda do preço do petróleo, afetou a vários níveis as empresas portuguesas exportadoras com ligações ao mercado angolano. A faturação baixou e em muitos casos foi necessário reduzir o pessoal. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), as exportações portuguesas para Angola caíram 42 por cento nos primeiros oitos meses deste ano.
O INE dá conta ainda que as compras de Portugal a Angola desceram de 1,4 mil milhões de euros, de janeiro a agosto de 2015, para 824 milhões no mesmo período deste ano.
Portugal e os PALOP
Em Portugal, a empresa FARMAKA é apenas um exemplo entre muitas outras empresas portuguesas que sofreram as consequências da quebra das exportações. O seu responsável de exportação, Bruno Patinho, diz que embora eles tenham outros projetos associados aos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], noventa por cento da atividade da empresa portuguesa é com Angola:
"Temos fornecimentos com a Guiné-Bissau, com São Tomé e Príncipe mas são projetos muito mais pontuais, tendo em conta a grandeza do mercado angolano comparado com os outros todos", relata Patinho.
O grupo empresarial FARMAKA tem unidades em Angola e Portugal e fornece bens a farmácias, clínicas e hospitais. A sua atividade abrange igualmente a área de diagnóstico laboratorial, fornecendo desde medicamentos e equipamentos a reagentes e consumíveis.
A grave crise petrolífera que atingiu Angola - dependente da cotação do mercado internacional - teve consequências na vida da empresa portuguesa.
"A partir do final de 2014, com decréscimo do preço do petróleo, as coisas começaram a degradar. Durante o ano de 2015 havia já uma grande intermitência na capacidade de importação do país mas, em termos de exportação, nós não sentimos muito o efeito. Em 2016, sim, as coisas agravaram-se muito", diz o responsável de exportação da FARMAKA.
Efeito em Portugal
O efeito sentiu-se mais em Portugal. A área comercial da empresa está praticamente parada. A faturação caiu sensivelmente a 50 por cento, de 2015 a 2016. Havia várias empresas a fornecer medicamentos em Angola, mas neste momento, segundo Patinho, o número também baixou para metade. "Só prevalecem no mercado as [ empresas ] que têm capacidade financeira para aguentar este período crítico", diz o responsável de exportações.
O principal problema, refere Bruno Patinho, prende-se com a capacidade do banco central angolano (Banco Nacional de Angola) em obter divisas para fazer o pagamento ao exterior. "Não temos dificuldades de tesouraria em nossa empresa, o nosso único problema prende-se com a exportação das divisas. Não conseguimos pagar aos nossos fornecedores externos e, por isso, não conseguimos comprar", diz.
Os melhores anos desta empresa familiar, que começou a sua atividade precisamente em Angola, foram entre 2011 e 2014, período em que o mercado angolano cresceu significativamente a um escala pouco comum na Europa, segundo refere o responsável de exportação.
Segundo ele, a partir de 2011, sentiu-se um crescimento acentuado das exportações. O aumento do consumo interno permitiu que as pessoas pudessem ter poder de compra para adquirir medicamentos com qualidade europeia e não com qualidade asiática, coisa que até aí faziam. O mercado talvez tenha crescido umas dez vezes em termos de produtos portugueses.
O crescimento permitiu o reforço das estruturas de exportação, de acordo com as exigências do mercado angolano onde a FARMAKA está há cerca de 20 anos. Com a queda das exportações e consequente diminuição da atividade, a empresa foi obrigada a reduzir o pessoal, encerrando uma das estruturas que tinha em Luanda e periferia. A empresa empregava em Angola cerca de 60 trabalhadores e foi forçada a reduzir para 45.
Equipa em Portugal
Em Portugal, onde funciona uma equipa menor, de 12 pessoas, não há despedimentos. Por enquanto, Tiago Tenera, que há dez anos trabalha na empresa, não se queixa dos eventuais reflexos da crise na sua vida pessoal e familiar.
"Sentimos, como funcionários, que é menos trabalho do que aquilo a que estavámos habituados. Ou seja, tínhamos os recursos para trabalhar de uma certa forma e expedir com uma regularidade mais acentuada do que é agora", diz o funcionário da FARMAKA.O ambiente de trabalho no armazém em Frielas também demonstra isso. Segundo Tenera, indo às instalações numa situação normal, praticamente todos os corredores teriam mercadoria, "porque nós quando fazemos a preparação da mercadoria demoramos sensivelmente duas semanas a enviar e tínhamos sempre os corredores mais completos", diz.
Segundo Tenera, neste momento há pouca atividade e as máquinas estão paradas.
Já o responsável de exportações da empresa FARMAKA, Bruno Patinho, considera que a forte dependência em relação ao petróleo despertou a consciência das autoridades angolanas e obrigou a uma maior regulação da saída de divisas. Por isso, a empresa portuguesa mantém a convicção de que Angola continua e continuará a ser um mercado atrativo.