Crise no Golfo Pérsico atinge continente africano
21 de junho de 2017A decisão de retirada das tropas do Qatar tem indiretamente a ver com o conflito diplomático que eclodiu entre o emirado, de maioria xiita, e os seus vizinhos sunitas, a Arábia Saudita e outros Emirados Árabes, e também alguns países africanos de maioria sunita, incluindo a Eritreia.
O Qatar reagiu imediatamente retirando os seus cerca de 450 soldados estacionados na fronteira entre a Eritreia e o Djibuti, alegando que perdera as condições de servir de mediador no conflito.
O Qatar é acusado pelos seus vizinhos árabes, mas também por países africanos como a Eritreia, de apoiar financeiramente terroristas ligados a grupos com o Al-Qaeda. Um argumento pouco consistente que serviu de pretexto para o corte de relações diplomáticas, afirma Annette Weber, perita em questões africanas da fundação alemã Ciência e Política, com sede em Berlim.
"O corte de relações entre o Qatar e os países vizinhos nada tem a ver com o financiamento do terrorismo. Toda a gente sabe que as atividades terroristas no corno de África e noutras regiões são financiadas por diferentes países e através de diferentes organizações, que não estão necessariamente sediadas no Qatar, mas também noutros países", explica.
Segundo Annette Weber, "é certo que parte do financiamento para a Al-Qaeda e para o Estado Islâmico provêm do Qatar, mas também é certo que países como a Arábia Saudita e outros países do Golfo financiam redes terroristas".
"Pretextos" para corte de relações
De acordo com relatos da ONU, as milícias Al-Shabab, na Somália, são apoiadas pela Eritreia, que, por sua vez, acusa o Quatar de apoiar o terrorismo.
Também o analista etíope Yusuf Yassien acredita que as acusações de que o Quatar estaria a apoiar o terrorimo não passam de um pretexto. Os países vizinhos do Quatar simplesmente não viam com bons olhos a crescente influência do pequeno, mas rico Quatar na região, afirma.
"O Quatar estava a desenvolver boas relações, tanto com a Eritreia como com o Djibuti, e isso não agradava aos vizinhos", refere o especialista. "Agora tudo voltou à estaca zero. Voltámos ao ponto em que estávamos há dez anos. A crise no Golfo Pérsico atingiu, de facto o continente africano".