Crise pós-eleitoral na República Democrática do Congo deixa nação insegura
19 de dezembro de 2011As últimas eleições presidenciais na República Democrática do Congo (RDC) resultaram no aumento das tensões entre os apoiantes do presidente reeleito Joseph Kabila e do líder da oposição Etienne Tshisekedi.
Embora Kabila tenha sido o vencedor oficial, Tshisekedi reclama igualmente a vitória nas urnas. Ele pede a anulação dos resultados e pretende tomar posse na próxima sexta-feira (23/12), um dia depois da programada tomada de posse de Kabila.
Os confrontos verbais entre os dois grupos sobem de tom. Que implicações terá isso para o futuro da República Democrática do Congo é uma questão em aberto.
Aberta temporada de caça a Kabila
A crise pós-eleitoral no Congo promete intensificar-se. As consequências são imprevisíveis. O candidato derrotado e líder da oposição, Etienne Tshisekedi, para além de querer ser empossado no cargo de presidente, apelou ao exército congolês para que obedeça às suas ordens.
Tshisekedi anunciou que dá um prémio a quem capturar o presidente reeleito Kabila. Desde o início da campanha eleitoral, morreram 23 pessoas na sequência da luta política entre os dois lideres políticos congoleses.
Denis Tull, da Fundação Ciência e Política e especialista em assuntos congoleses coloca que a pressão sobre o governo Kabila irá aumentar com os crescimento dos protestos nas ruas mas acredita que o apelo de Tschisekedi ao exército poderá ter consequências. "No entanto, também é evidente que a oposição está preocupada com o fato de o governo intensificar a repressão obrigando-a a conter-se", esclarece.
Manifestações à vista
Tschisekedi apelou aos militantes do seu partido, a União para a Democracia e Progresso Social, para terem calma mas mandou organizar manifestações para esta semana.
Observadores partilham da opinião de que a situação política em Kinshasa, capital da RDC, pode explodir a qualquer momento. Para Aubin Minaku, secretário-geral da coligação que apoia o presidente Kabila, "Tshisekedi enveredou realmente por uma lógica criminal que viola a lei congolesa. É uma lógica de desobediência às normas estabelecidas".
Minaku defende que em qualquer lugar do mundo, "quando uma pessoa comete um crime com uma dimensão internacional, mesmo que seja candidato à presidência da república, o Estado e o Tribunal Penal Internacional são obrigados a atuar com rigor."
Credibilidade em baixa
A comunidade internacional mostra-se por enquanto calma apesar de a situação na RDC se estar a agravar. No entender de Denis Tull, tal reação tem a ver com credibilidade dos dois opositores: "no entender de muitos diplomatas ocidentais, Tshisekedi não representa uma alternativa credível a Kabila. É um político errático, que muitas vezes faz declarações infelizes. Por isso nem Tschisekedi nem Kabila conseguem ganhar a simpatia da comunidade internacional".
Tshisekedi, entretanto com 79 anos de idade, continua a ser visto pelo congoleses como o homem que resistiu à ditadura de Mobutu Sese Seko. Ele é venerado pelas camadas mais pobres da população.
Os resultados oficiais das últimas eleições presidenciais deram-lhe 32% dos votos, dos 19 milhões de eleitores que foram chamados às segundas eleições livres realizadas neste país. Todo o processo teve apoio da ONU.
No entender de muitos analistas a situação na RDC é politicamente instável porque os dois principais lideres – Kabila e Tschideki – não são parte da solução, mas sim parte do problema.
Autor: Pedro Varanda de Castro
Edição: Bettina Riffel