Críticas a Guebuza por falta de diálogo com RENAMO
17 de abril de 2013São já diversos os alertas por parte da comunidade nacional e internacional: é essencial que se resolvam as divergências partidárias para evitar um colapso político e social no país. Moçambique aparece como um palco de eventuais conflitos que está a causar muita preocupação entre diferentes elementos da sociedade civil, após os confrontos do início do mês, dos quais resultaram 5 vítimas.
Esta quarta-feira (17.04), o alerta foi dado pela presidente da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique (LDHM), Alice Mabota, que condena a atitude de intransigência do presidente, de não estabelecer diálogo com o líder da oposição, tendo em vista a resolução das suas divergências políticas. A presidente da Liga condena a atitude da RENAMO, por ter respondido aos ataques da polícia, mas sabe que o presidente moçambicano tem o poder de evitar mais confrontos, se estiver disposto a dialogar com a oposição
Guebuza não respeita população, diz ativista
"Ele é que é o chefe de estado", afirma Alice Mabota, considerando que "foi nomeado e, a partir da altura em que ele venceu, significa que confiaram nele". No entanto, para a ativista, Guebuza "não tem esse respeito para com as pessoas".
"Afonso Dlkhama há muito tempo que vem pondo na boca dele as palavras que saem da boca da maior parte dos cidadãos moçambicanos", adianta ainda, frisando que o presidente "não dialoga, nem com o líder da RENAMO nem com outras forças vivas da sociedade, no sentido de nos fazer perceber". "Ele fala em metáforas, fala a criticar as pessoas que o criticam", conclui.
A comunidade internacional também mostrou preocupação com a situação política que se vive em Moçambique, e a chilena Magdalena Sepúlveda, relatora das Nações Unidas sobre a Pobreza Extrema e Direitos Humanos, apelou ao governo moçambicano para "tomar todas as medidas possíveis para fornecer espaço para o diálogo aberto e construtivo" com a RENAMO. A relatora da ONU vai mais longe e afirma que o governo deve tornar-se mais responsável pelo povo de Moçambique. Mas já para Alice Mabota, é evidente que o executivo não está a aplicar esforços para evitar uma guerra.
O regresso à 'operação-produção'?
"O Presidente Armando Emílio Guebuza está-nos a empurrar para voltar à 'operação-produção', porque a partir da altura em que se decreta estado de guerra, com estes tanques todos, a Constituição pára", sublinha a ativista. Alice Mabota descreve o cenário do país, caso a Constituição seja suspensa: "Temos que caminhar com um guia de marcha, temos que pedir autorização ao chefe do quarteirão quando nos queremos deslocar. Temos que pedir autorização para publicar alguma coisa e não podemos exercer qualquer actividade porque o país estará em guerra. A partir da altura em que o país está em guerra, o parlamento passa a trabalhar sozinho com a maioria absoluta que ele tem, faz as leis que quer, e faz o que ele quer".
A Presidente da LDHM, estabelecendo uma comparação do anterior presidente com Gebuza, afirma que "pelo menos Joaquim Chissano tinha a virtude de ouvir e respeitar as opiniões das pessoas", característica que afirma que o actual presidente não tem, e que coloca Moçambique numa posição extremamente frágil. Alice Mabota acrescenta ainda que os comportamentos de Guebuza se assemelham a estratégias de regimes totalitários, afirmando que "sistematicamente, os partidos da oposição, neste caso, a RENAMO e o MDM, são vandalizados, não querem que um novo partido esteja lá".
Presidente moçambicano comparado a ditadores
"Ou ele não quer que haja eleições, para ser como José Eduardo dos Santos e Roberto Mugabe que não querem sair do poder, mas a verdade é que o líder da oposição tem razão, atacaram a sede administrativa em Muxungué porque a polícia de intervenção rápida entendeu ir invadir a sede da RENAMO e nós perguntamos porquê", questiona. Para Alice Mabota, "movimentaram o contingente, estão a gastar dinheiro com compras de tanques de guerra e não vai valer de nada, porque o Khadafhi tinha mais dinheiro que ele e morreu como um rato".
A relatora da ONU, Magdalena Sepúlveda, relembrou que "o enorme progresso que o país tem conseguido até à data tem sido possível porque Moçambique goza de paz e estabilidade" e, sem elas, poderá ser inevitável um colapso político e social.