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Cuando e Cubango: Divisão sem mobilidade será um fracasso

Adolfo Guerra (Menongue)
30 de dezembro de 2024

Divisão administrativa: Cidadãos defendem que desenvolvimento e estabilidade social das províncias do Cuando e do Cubango dependem do investimento em estradas para possibilitar o fluxo populacional e a empregabilidade.

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A cidade de Menongue passa a ser a capital provincial do Cubango
A cidade de Menongue passa a ser a capital provincial do CubangoFoto: Adolfo Guerra/DW

O Cuando Cubango foi uma das três províncias partidas pela Divisão Político-Administrativa (DPA) de Angola, a par do Moxico e de Luanda.

Com a mudança, Angola deixa de ter 18 províncias e 164 municípios e passa a ter 21 províncias e 326 municípios. Mas muitos cidadãos olham com ceticismo para as alterações.

Júlio Bernardino Biete integra o departamento de assistência social, estudo e projeto da Igreja Evangélica de Angola (IECA) e participou da auscultação sobre a divisão do Cuando Cubango. Defende que para se alcançar o sucesso que se pretende com a divisão, que é aproximar e desenvolver o país, é necessário apostar na construção de estradas:

"Eu conheço muito bem a província do Cuando (Cubango). Vivi ali por algum tempo e a maior dificuldade desta província, agora designada por província do Cuando, são as vias de acessos. Porque se esta não for a prioridade, acredito que em nada valeria a sua divisão," avalia.

"Já que os propósitos são realmente de servir os angolanos, são os de servir os cidadãos que lá estão e aproximar um pouco mais os serviços do cidadão, então que seja prioritária a abertura das vias de acesso para que haja maior fluidez dos residentes tanto de uma província como da outra - e assim melhorar ou contribuir para a elevação do nível de vida," pondera.

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Desenvolvimento condicionado ao investimento

Já o gestor de recursos humanos Nelito Kassuata vê vantagens na divisão. A principal delas é a possibilidade de maior empregabilidade e, por essa via, a promoção do fluxo populacional. É que Cuando Cubango é a região com maior extensão territorial de Angola, porém pouco povoada.

Mas tal como Biete, Kassuata aponta a falta de estradas como uma das causas do atraso do desenvolvimento e do fluxo populacional:

"Vamos ter sempre aquelas dificuldades que as pessoas vão lá estar terão para procurar emprego. Mas vão chegar lá e o custo de vida que eles vão encontrar vai fazer com que depois escrevam a pedir para sair," considera.

Se a facilidade de conexões não for prioridade, Biete antevê que o almejado desenvolvimento pretendido com a DPA venha a ser um projeto falhado em todas as províncias alvo da divisão:

"Se as vias de acesso não forem abertas, não haverá vantagens - porque a vida continuará a subir tendo em conta o preço da cesta básica," explica.

Olhando para as dificuldades de se criar um mercado que favoreça a aquisição dos produtos ao nível local, Biete avalia que o preço dos produtos tende a subir devido ao transporte de Menongue (capital do Cubango) a Mavinga, que é a capital da província (do Cuando).

E quando o preço for considerado alto ao nível do próprio mercado, "não haverá vantagens," pontua.

José Martins é o governador da província do Cubango
José Martins é o governador da província do Cubango Foto: Adolfo Guerra/DW

Ouvir a juventude

Para o mais novo partido PRÁ-JA SERVIR ANGOLA, a Divisão Político-Administrativa foi uma imposição do Governo. Mas o secretário provincial, Amândio Kapoco, garante que a divisão não se vai adaptar à nova realidade. O político está cético em relação aos objetivos da DPA:

"Será que a nova divisão administrativa vai ocasionar desenvolvimento? Vai trazer resultados?" questiona.

"Eu ainda vejo que será mais de lapidar o erário novamente, como sempre nos acostumaram. Se não houver uma real fiscalização, se a sociedade em si não ajudar, então será sempre o que vamos assistir nos próximos tempos: relatórios engordados. Mas a aplicação prática do desenvolvimento, duvido muito que encontraremos," afirma.

O académico Nelito Kassuata aconselha ao governador do Cubango José Martins, já em funções, que o seu mandato seja focado no desenvolvimento da província. Pede ainda que deixe de olhar para os jovens académicos e para a sociedade civil como seus adversários:

"Ele entrou com um bom lema 'Transformar e Desenvolver'. Então se quer realmente transformar, tem que se alinhar, tem que ouvir a juventude. Porque é a juventude que lhe vai ajudar a transformar a província e a desenvolver a mesma," afirma.

"Esperamos um governador mais aberto à juventude, mais aberto à sociedade civil, que a abrace e não olhe para os fazedores de opinião pública como inimigos do partido MPLA," finaliza.