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Cuanza Sul: "Vemos doentes a morrerem na estrada"

Óscar Constantino (Sumbe)
23 de maio de 2023

As estradas de acesso aos hospitais na província do Cuanza Sul, em Angola, têm sido um problema para as autoridades. Segundo a população, doentes têm perdido a vida a caminho do hospital devido ao mau estado das vias.

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Foto: Óscar Constantino/DW

No município da Cela, província do Cuanza Sul, o mau estado da via que dá acesso ao Hospital Geral da Kissanga Kungo é o principal desafio do poder local.

À DW, o administrador municipal Francisco Mateus explica que as obras de requalificação da estrada foram interrompidas devido ao incumprimento da empresa chinesa a que foi entregue a obra.

"Houve incumprimento por parte do empreiteiro. Então, fomos obrigados a convidar a empresa a rescindir o contrato. Fizemos um novo concurso, a comissão de avaliação já fez o seu trabalho e brevemente teremos o anúncio da nova empresa que vai atacar as obras de melhoramento da estrada", justifica.

Segundo Francisco Mateus, "a construção definitiva" das estradas só começa em 2024.

No município do Seles, a situação é semelhante. Para chegar ao hospital da comuna da Botera, os cidadãos têm de percorrer cerca de 45km de estrada esburacada em motorizadas. Alguns doentes acabam mesmo por morrer antes de chegarem ao hospital, denuncia Inácio Ndumbu, utente dos serviços de saúde daquela comuna.

"A estrada é como um cancro incurável, e os governantes fecham os olhos, como se nada estivesse a acontecer. É com muita tristeza que vemos doentes a morrerem na estrada, principalmente mulheres em trabalho de parto, porque não conseguem deslocar-se", lamenta.

Angola Sumbe Stadt des Staubs
Estrada em obras no Sumbe, capital da província do Cuanza Sul (foto de arquivo)Foto: DW/M. Luamba

Falta de profissionais

Além dos problemas no acesso, os moradores da Botera queixam-se da falta de profissionais, principalmente enfermeiros e médicos. Neste momento, só há um enfermeiro na comuna, o que dificulta a assistência, conta outro utente.

"Na ausência do enfermeiro, temos de recorrer às motorizadas de carroçaria para transportar doentes. Um doente grave que percorre 45km de estrada danificada não tem como sobreviver. E o hospital é pequeno e falta tudo lá, enfermeiro e medicamentos".

O mesmo cenário é descrito à DW pelo soba António Ecundique: "Muitas vezes, as mulheres grávidas transportadas em motorizadas acabam por dar à luz ao ar livre, por não chegarem a tempo ao hospital. Muitas pessoas morrem na via por causa de atrasos e da falta de estrada", conta.

O soba critica ainda a falta de resposta da administração municipal do Seles.

"O administrador prometeu várias vezes a requalificação da estrada, mas nunca passou das promessas. Parece que as nossas reclamações não chegam às autoridades que poderiam resolver essa situação dramática'', conclui.

A DW contactou o administrador Municipal do Seles, Eliseu Segunda, que recusou falar para já sobre o assunto.

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