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Chapo toma posse em ambiente de tensão e aparato militar

Nádia Issufo | Amós Fernando | DW (Deutsche Welle)
15 de janeiro de 2025

Daniel Chapo é investido Presidente em ambiente de tensão que abala Moçambique há 3 meses. A cerimónia é marcada pela ausência de vários convidados ilustres. E já há relatos de concentrações de protesto e novas vítimas.

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Praça da Independência em Maputo
Daniel Vhapo toma posse numa cerimónia na Praça da Independência, em MaputoFoto: Nádia Issufo/DW

O dia até amanheceu bonito em Maputo, o ideal para uma celebração como a tomada de posse de um estadista. Mas faltavam as pessoas na rua, que caraterizariam um ambiente festivo. Os relatos que chegam da capital moçambicana são de excessiva presença policial e militar e a cidade das acácias mais parece um palco de guerra.

De acordo com relatos da organização não-governamental moçambicana Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD), três jovens foram mortos esta madrugada, no bairro Machava Socimol.

Em entrevista à DW pouco antes da cerimónia em Maputo, Tomás Salomão, membro sénior da FRELIMO, diz que tomada de posse de Daniel Chapo "deve ser uma celebração para os moçambicanos".

"Creio que a grande responsabilidade do Presidente eleito vai ser trazer a família desencontrada para cima de uma mesa, conversar, dialogar e olhar para o futuro", declarou.

Cerimónia de tomada de posse de Daniel Chapo tem lugar na Praça da Independência, em Maputo
Tudo a postos para a cerimónia de tomada de posse de Daniel Chapo na Praça da Independência, em MaputoFoto: Nádia Issufo/DW

Presidentes ausentes

Na cerimónia desta quarta-feira na Praça da Independência, em Maputo, não estão presentes vários ilustres convidados com destaque para os chefes de Estado e de Governo da SADC, União Africana (UA) e Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP).

Cyril Ramaphosa, da África do Sul, Umaro Sissoco Embaló, da Giné Bissau, são dos poucos Presidentes a testemunhar a tomada de posse de Daniel Chapo como quinto Presidente de Moçambique. A maioria dos estadistas decidiu enviar a Maputo os seus representantes - um deles é o chefe da diplomacia de Portugal, Paulo Rangel.

Venâncio Mondlane convoca protestos

Venâncio Mondlane não dá tréguas. O candidato presidencial que, segundo o Conselho Constitucional ficou em segundo lugar, apelou esta terça-feira (14.01) aos seus apoiantes para que continuem os protestos contra os resultados eleitorais.

"Queria dar a maior força aos meus irmãos, vamos continuar com as nossas manifestações. Vamos lá ver se vão conseguir governar este país com manifestações todas as semanas."

Mondlane voltou a denunciar assassinato dos seus apoiantes. Disse ainda que o hotel onde está hospedado na cidade de Maputo está cercado pelas forças de segurança: "Mas estou pronto, se quiserem me prender que me prendam. Se quiserem levar usar processos no tribunal estou pronto para ir à justiça, mas a verdade é que o povo não vai parar de manifestar”.

No entanto, na última segunda-feira (13.01), Daniel Chapo, apelou à calma e afirmou que estava aberto para um diálogo inclusivo no país. "Vai ser um debate extremamente para todos os moçambicanos que devem participar, porque as reformas são necessárias e achamos que todos os moçambicanos são convidados a participar", disse.

Venâncio Mondlane declara-se o "Presidente eleito pelo povo moçambicano"

Poucos sinais para fim pacífico do impasse

A analista moçambicana Carmeliza Rosário disse à DW que há poucos sinais para um fim pacífico do impasse pós-eleitoral no país. "Há um sentimento de injustiça. Não há meios de comunicação imparciais e nem todos estão a cobrir tudo", diz.

Ao tomar posse nestas condições de injustiça eleitoral, "vamos ter novamente um Estado que se está a impor, com as pessoas a rejeitarem essa imposição e a decidirem quem querem que as governe", considera a analista.

A sociedade civil moçambicana ainda busca pela verdade eleitoral da votação de 9 de outubro. Na terça-feira (14.01), Wilker Dias, coordenador da Plataforma DECIDE, disse que já foi submetida uma queixa junto do Tribunal Africano de Direitos Humanos.

"Pede-se o não reconhecimento do próximo governo e posteriormente a suspensão do atual mandato e isto pode ser mesmo depois da tomada de posse esta quarta-feira", explicou.

Para além da justiça eleitoral, os subscritores da petição pedem a responsabilização do Estado pelas mais de 300 mortes nas manifestações pós-eleitorais.