"Mapa político do MDM não se cinge a Zambézia"
23 de maio de 2018Moçambique está a menos de cinco meses das eleições autárquicas, marcadas para 10 de outubro de 2018.
Nesta corrida eleitoral, os olhos estarão postos sobre o Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Até há bem pouco tempo, a segunda maior força da oposição no país somava vitórias históricas nas autarquias. Mas o regresso da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, às eleições autárquicas e a perda do município de Nampula para a RENAMO poderão ditar um outro cenário para o MDM.
O líder do partido, Daviz Simango, refere, no entanto, que não tem nenhuma estratégia especial na manga. "Cada eleição é uma história", afirma em entrevista.
DW África: O MDM já decidiu quem serão os seus candidatos às eleições?
Daviz Simango (DS): Existem muitos candidatos, mas em termos de definição cabe à comissão política anunciar. Penso que, dentro de um mês ou um mês e meio, a comissão vai anunciar. É verdade que temos o desafio da lei de descentralização, que nalgum momento cria transtornos, mas o MDM está consciente da identificação dos seus candidatos, e esse trabalho de base está a decorrer neste momento. Espero que, dentro de trinta dias, a comissão política termine isso e faça o anúncio público.
DW África: Ao longo dos últimos anos, o MDM foi conquistando cada vez mais municípios. Entretanto, nas últimas eleições intercalares perdeu um depois de uma situação de tensão com o edil de Nampula, Mahamudo Amurane, assassinado em 2017. Que estratégias especiais tem o MDM depois de ter perdido o município de Nampula?
DS: As estratégias do MDM são sempre as mesmas. Definimos como prioridades a conquista dos terrenos locais, que são as autarquias, e essa tem sido a estratégia e arma forte. O MDM tem uma participação ativa na vida política e na construção da sociedade moçambicana. Estar presente nos órgãos locais de decisão, lá onde as coisas acontecem, mostrar as suas atividades, a sua boa governação, é algo que tem sido e continua a ser a nossa marca de existência enquanto partido político. Penso que vamos continuar a trabalhar muito, porque o eleitorado é dinâmico, mais exigente, acredita que as coisas podem acontecer, e o MDM tem de se adaptar a cada momento de crescimento do processo democrático e à exigência do cidadão, [para] que esteja à altura de responder à demanda e conquistar o eleitorado e vencer as eleições.
DW África: Mesmo para o caso específico de Nampula, não tem nenhuma estratégia especial para recuperar este município?
DS: O MDM está representado na assembleia e nós todos acompanhámos os cenários que aconteceram. O MDM não tem uma estratégia específica e localizada, o nosso interesse é concorrer em todas autarquias e todas elas terão o devido tratamento, de uma forma equilibrada, de acordo com o estatuto e daí avançar e esperar que os eleitores façam a parte deles, enquanto nós fazemos a nossa parte da conquista dos votos.
DW África: O MDM tem mais municípios na província da Zambézia, Quelimane e Gurué. Entretanto tem também forte apoio nos municípios de Mocuba, Alto Mulocué e Milange, onde não conseguiu vencer nas últimas autárquicas. Que trabalho específico está a fazer nesses lugares?
DS: O mapeamento político do MDM não se cinge à província da Zambézia. Pensar assim seria cometer um erro estatégico de planificação para o MDM conquistar as autarquias. Portanto, não podemos olhar para a Zambézia como o poço de oportunidades. Em Xai-Xai, a oposição conseguiu assentos pela primeira vez e isso foi graças ao MDM. Portanto, valorizamos todas as autarquias e as estratégias são comuns, de acordo com a realidade local montamos algumas estratégias focalizadas, mas sem fugir do global.
DW África: Coloco essa questão por causa dos bons resultados que o MDM terá conseguido nesses municípios nas últimas autárquicas...
DS: Cada eleição é uma história. Se for anotar os resultados que o MDM conseguiu em Maputo e em Maputo-província, nenhum partido da oposição conseguiu em toda a história da [nossa] democracia. Estamos a falar de Xai-Xai, município de Inhambane, dos municípios de Sofala, onde perdemos com a diferença de um assento - é o mesmo que aconteceu na Zambézia em relaçãoa Milane e Mocuba. Em Gurué, tivemos de ir a segunda volta, as baterias do partido centralizaram-se em Mocuba e conseguimos vencer Mocuba na segunda volta e conseguimos vencer também Nampula. Penso que a cada eleição é uma história, um dado novo, o eleitorado é imprevisível. Portanto, o MDM não pode estar amarrado a um quintal ao invés de olhar à volta do quintal.