De olhos postos em Berlim para cessar-fogo na Líbia
19 de janeiro de 2020A chanceler alemã, Angela Merkel, reuniu este domingo (19.01) em Berlim o chefe do Governo do Acordo Nacional (GAN) da Líbia, Fayez al-Sarraj, e um dos homens fortes do país, Marechal Khalifa Haftar, para uma cimeira na qual também participam outros atores envolvidos no conflito.
Os presidentes de França, Emmanuel Macron, Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e Egito, Abdel Fattah al-Sisi, os primeiros-ministros da Rússia, da Itália Giuseppe Conte, e do Reino Unido, Boris Johnson, assim como o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, participam no encontro, cujo objetivo principal é lançar as bases para um processo de paz.
A conferência realiza-se com o apoio da ONU, que reconhece al-Sarraj como o legítimo chefe de Governo da Líbia. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, é o anfitrião formal do evento.
Apelos pré-encontro
Putin e Erdogan, que organizaram um acordo de cessar-fogo que ainda não foi assinado por Haftar, encontraram-se antes da cimeira. Na reunião, o chefe de Estado turco lançou um apelo ao marechal que domina o leste da Líbia, Khalifa Haftar, para pôr fim à sua "atitude hostil" a uma solução para o conflito.
Já Vladimir Putin regozijou-se com a trégua entre os campos rivais, que vigora de 12 de janeiro, por iniciativa do eixo Moscovo-Ancara, que agora desempenha um papel chave no conflito. Ainda assim, Putin reconheceu que "ainda não foi tudo conseguido" na medida em que o "homem forte" do leste da Líbia recusou até agora assinar um acordo formal de cessar-fogo, apresentado por Moscovo. "Mas ainda não perdemos a esperança que o diálogo prossiga", acrescentou.
O simples fato de o marechal e chefe do Exército Nacional Líbio (LNA) ter participado da reunião é considerado um sucesso para a diplomacia alemã, que sempre deixou claro que não devem ser colocadas grandes expetativas na conferência.
"O importante é que todos os atores relevantes no conflito estejam aqui", enfatizou o novo alto representante para Relações Exteriores e Política de Segurança da União Europeia, Josep Borrel.
O diplomata concorda com a Alemanha que o encontro deve ser considerado o início de um processo e a necessidade de obter o envolvimento da Europa.
Momento de alta tensão
A cimeira tem lugar numa altura em que as forças de Haftar, que mantêm Tripoli cercada, bloquearam a produção de petróleo no Golfo de Sirte, o coração da indústria petrolífera líbia. A trégua que entrou em vigor há uma semana tem sido violada quase diariamente.
O representante especial da ONU para a Líbia, Ghassan Salameh, que coordena as conversas com Berlim para a reunião, convocou as tropas estrangeiras a deixarem a Líbia. No mesmo sentido, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, apelou hoje em Berlim a um "cessar-fogo duradouro" na Líbia e ao "fim de toda a intervenção estrangeira" no país, sublinhando que os Estados Unidos apoiam o envolvimento da ONU.
O encontro foi convocado na semana passada por Angela Merkel, após dez meses de combates iniciados pela ofensiva lançada pelo Exército Nacional Líbio, do marechal Khalifa Haftar, contra Tripoli, sede do governo de acordo nacional reconhecido pela ONU do primeiro-ministro Fayez al-Sarraj.
Os combates causaram cerca de 1.500 mortos, incluindo mais de 280 civis, e perto de 150.000 deslocados.