De que fogem os refugiados da Eritreia?
15 de abril de 2016De acordo com as estatísticas sobre o número de migrantes que chegam à Alemanha, os eritreus ocupam a sexta ou a sétima posição. Que motivos levam tantas pessoas a abandonar o país, onde não há guerras sangrentas, e a partir em direção à Europa?
Um relatório das Nações Unidas fala de enormes violações dos direitos humanos naquele país leste-africano. Nunca se realizaram eleições na Eritreia desde a independência, em 1993, lê-se no mesmo documento.
Além disso, praticamente não existe liberdade de imprensa nem de expressão na Eritreia. Nas cadeias do país encontram-se milhares de pessoas que foram presas sem acusação formal.
Também têm sido muitas as críticas contra a Eritreia devido ao serviço militar, a que todos os jovens da Eritreia são obrigados a fazer. O problema é que ninguém sabe quanto tempo esse serviço dura, uma vez que os comandantes das unidades podem prolongá-lo sucessivamente, sem qualquer justificação.
Tropa por tempo ilimitado
Por não quererem servir a tropa por tempo ilimitado, milhares de jovens fogem da Eritreia. "Muitos dos refugiados, meses depois de fugirem, reconhecem que a fuga foi um erro e voltam à Eritreia", diz Tesfalem Andom, chefe da aldeia de Tokombia, situada numa região semi-deserta, perto da fronteira com a Etiópia, e a 200 quilómetros da capital, Asmara.
"Eles reconhecem que a vida nos campos de refugiados não é o que eles querem. Fugir da Eritreia está na moda entre os jovens, mas essa moda, como todas as modas, é efémera", afirma Tesfalem Andom.
Conta ainda que junto à fronteira com a Etiópia reina a calma. "Nada acontece praticamente. Ninguém aqui quer ter problemas com os vizinhos etíopes". O chefe da aldeia é membro da Frente Popular para a Democracia e a Justiça (PFDJ), o partido único que domina o país desde 1993 e que nunca foi eleito, uma vez que nunca houve eleições que legitimassem o seu poder.
Vida difícil
Em Asmara, a capital da Eritreia, não é difícil encontrar jovens que estão a considerar a hipótese de fugir, devido às dificuldades em levar uma vida digna no país.
No mercado paralelo, um litro de óleo custa seis euros. Paga-se o mesmo por meio quilo de massa. Um litro de gasolina custa três euros. O salário médio raramente ultrapassa os 50 euros por mês. A frustração entre os cidadãos é enorme.
A comunidade internacional não tem poupado críticas ao regime da Eritreia. Yemane Gebreab, que é considerado o "número dois" na hierarquia do Estado, depois do Presidente, responde que a comunidade internacional não conhece o país.
"Os jornalistas nem sequer sabem onde fica a Eritreia, mas perguntam logo como é possível ter um serviço militar assim tão rígido. O poder dos meios de comunicação social é terrível", afirma.