1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Declarações de Sissoco podem ser "estratégia"

11 de setembro de 2024

À DW, analista diz que anúncio de Sissoco de que não se vai recandidatar a segundo mandato pode ser "estratégico", mas pode também querer dizer que ele sabe que, se depender do povo, "não vai ganhar" as eleições.

https://p.dw.com/p/4kWZ3
Umaro Sissoco Embaló, Presidente da Guiné-Bissau
Umaro Sissoco Embaló anunciou que não se vai recandidatar a um segundo mandatoFoto: Yelena Afonina/TASS/picture alliance

O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, anunciou, esta quarta-feira (11.09), que não se vai recandidatar a um segundo mandato.

Falando à imprensa à saída da reunião do Conselho de Ministros, realizada, esta quarta-feira (11.09), no palácio do Governo, em Bissau, o chefe de Estado guineense explicou que, no regresso da sua visita à China,  a sua esposa lhe fez a sugestão de não se recandidatar e, após refletir, tomou esta decisão.

No entanto, e na mesma ocasião, Sissoco disse que não será substituído "nem por Nuno Nabiam, nem por Domingos Simões Pereira e nem por Braima Camará”.

"Será outra pessoa. Porque este país merece melhor do que nós", disse.

Presidente guineense não se recandidata a segundo mandato

Em entrevista à DW, o analista político Luís Petit diz que este é um anúncio "surpreendente para todos", salvaguardando que é necessário ver para crer. Isto porque, frisa, "em várias ocasiões, o Presidente diz uma coisa e faz outra".

DW África: Ficou surpreendido com o anúncio de Sissoco Embaló?

Luís Petit (LP): Até aqui é uma declaração surpreendente para todos nós, porque até a esta viagem ao estrangeiro, ele vinha sempre falando na sua reeleição para um segundo mandato. E tudo o que tem feito até aqui, em termos políticos, é no sentido de angariar mais aliados - em termos de individualidades e de partidos - para a sua reeleição .

Tudo o que tem acontecido nos grandes partidos políticos com assento parlamentar na Guiné-Bissau tem tido a intervenção do Presidente da República. Estou-me a referir à divisão que está a acontecer no MADEM-G15, no PRS e, consequentemente, nos outros partidos tem a ver com a intervenção direta do Presidente da República

DW África: Ou seja, o que ele disse não vai ao encontro do que tem feito na prática, para um segundo mandato?

LP: Obviamente, obviamente. É por isso que essa declaração é meio surpreendente. E é preciso vermos para acreditar que realmente o Presidente da República está sério no que está a dizer, porque, em várias ocasiões, ele diz uma coisa e faz outra.

Analista político guineense Luis Petit
Luís Petit diz que anúncio de Sissoco de que não se vai recandidatar a segundo mandato pode ser "estratégico"Foto: Privat

DW África: Há alguns setores que já estão a dizer que é uma estratégia do Presidente para desviar a atenção sobre a apreensão de um jato privado com droga em Bissau. Acha que esta declaração de Embaló é estratégica?

LP: Toda a gente está a comentar nos bastidores da Guiné-Bissau que ouviu que o Presidente não está em condições e não se vai recandidatar ao seu segundo mandato. Isto é uma atualidade que tira a atenção. Tudo pode ser tido como uma estratégia do Presidente da República. Pode ser uma estratégia pessoal, pode ser uma estratégia política, uma estratégia para desviar a atenção. Pode ser uma estratégia de aguardar para granjear mais apoio de grupos políticos que, eventualmente, poderão vir pedir que se recandidate ao segundo mandato. Por isso, é melhor aguardarmos para esperar que realmente essa declaração do Presidente seja tida como uma declaração séria.

DW África: Na sua opinião, ele tem condições de avançar para um segundo mandato?

LP: Se isto vier a acontecer, quer dizer que se calhar o Presidente da República tirou ilações sobre a sua não recandidatura ao seu segundo mandato. Porquê? Porque ele sabe de antemão que não vai ganhar essas eleições. Se depender só dos eleitores da Guiné-Bissau o Presidente da República não está em mínimas condições de se recandidatar.

DW África: Porquê?

LP: Porque, nestes cinco anos, [o Presidente] deitou abaixo tudo o que são os valores da democracia e o que são os valores éticos e morais da Guiné-Bissau. O que se comenta nos bastidores é que aquelas pessoas que o apoiaram no primeiro mandato realmente viraram as costas ao Presidente da República. Isso vê-se claramente. Talvez essa estratégia de não se recandidatar é para não passar a humilhação que o seu antecessor, José Mário Vaz, passou nas últimas eleições. Na verdade é isto, um Presidente [em funções] não concorrer para a sua recandidatura para não ficar na quarta posição. E se calhar ele terá os piores resultados que a história já nos deu.

 

DW Mitarbeiterportrait | Braima Darame
Braima Darame Jornalista da DW África
Saltar a secção Mais sobre este tema