Deficientes de Moçambique queixam-se da falta de atenção da sociedade
23 de dezembro de 2013
Em Moçambique, os deficientes cansaram-se de serem menosprezados e discriminados pela sociedade e convidaram os jornalistas a serem parte da solução.
O FAMOD, Fórum das Associações Moçambicanas de Deficientes, visitou seis rádios comunitárias em algumas províncias e constatou que apenas uma tem um programa dedicado às pessoas incapacitadas.
Mudança de mentalidades
Aos olhos do FAMOD, os jornalistas podem ser o ponto de partida para a mudança do estigma social. O presidente da organização, Ricardo Moresse, refere que é preciso mostrar aos média o trabalho deste grupo de moçambicanos.
“É preciso sair para o campo para ver a realidade das pessoas com deficiência e reportar esta realidade”, adianta.
“O Governo moçambicano está na fase de produção do relatório sobre a implementação da convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência em Moçambique”, acrescentou.
Entre os casos de discriminação, Ricardo Moresse dá o exemplo de uma escola da Beira que discriminou uma menina deficiente. O caso foi a julgamento, mas segundo Moresse não foi destacado na imprensa.
“Eu acho que a imprensa não aborda determinadas matérias como deveria. No caso desta menina, os jornalistas deveriam pegar nisto. Seria uma matéria interessante para futuras situações”, alerta.
Escolas como instrumento de discriminação
Existem algumas escolas de educação especial em Moçambique, mas para o FAMOD tratam-se de um instrumento discriminatório.
“Nos termos da convenção que o país já ratificou, é a escola que deve estar preparada para lidar com crianças com necessidades educativas especiais e não a criança a adaptar-se à escola”, indica.
“Há muitas coisas que envolvem a questão da educação inclusiva, como por exemplo o acesso às casas de banho para uma criança com deficiência, os acessos aos edifícios e às tecnologias de informação”, frisa Ricardo Moresse, que assevera “não estão adaptados”.
Pascal Nkula, professor de jornalismo, refere que a comunicação social deve repensar a sua atuação.
“Nós, como escola, achamos que é necessário que os alunos saiam da escola com ferramentas que permitam olhar naturalmente para estas questões e tratá-las de forma normal como outras questões sociais”, diz.
“Este assunto vai entrar no currículo, não como disciplina mas como um dos temas de seminário do último ano de formação de jornalista. Vai haver um módulo que vai tratar a questão das deficiências”, avança o professor.