Desavenças políticas prejudicam assistência à fome no sul de Angola
27 de novembro de 2013Com 95 mil habitantes, o município dos Gambos é o mais afetado pela seca, entre as 14 autarquias da província da Huíla, sul de Angola. A situação é particularmente crítica nas zonas de Fimo e Tchipeyo. As populações estão a abandonar as suas áreas de residência, as crianças há muito que deixaram de ir à escola e muitas pessoas chegam a percorrer 150 quilómetros a pé para chegar aos centros urbanos.
As ajudas têm estado a chegar indepedentemente da cor, raça, filiação partidária e credo religioso. No entanto, a assistência fornecida pela oposição tem sido mal interpretada pela administração municipal dos Gambos. O partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), não vê com bons olhos a ajuda da União Nacional para a Indepedência Total de Angola (UNITA), da oposição, interpretando-a como uma tentativa de captar o eleitorado.
O vice-presidente da Associação dos Criadores Tradicionais de Gado Ovatumbi, Kaio Tchakuyilwa, denuncia o caso: “vimos por exemplo, a UNITA passou por aqui, doou algumas coisas, mas foram coisas isoladas, depois mandaram-nas meter num armazém”, conta.
Segundo Kaio Tchakuyilwa, a ajuda foi depois distribuída “graças às igrejas que receberam aqueles produtos para poderem destribuir nornalmente”, explica. “O que nos faz perceber que para um partido doar alguma coisa é um problema. E não pode ser assim, porque a fome não tem bandeira”, contesta o vice-presidente da Associação dos Criadores Tradicionais de Gado Ovatumbi.
Interrogatórios na assistência humanitária
Na opinião de Kaio Tchakuyilwa, as autoridades administrativas do município dos Gambos, a sul do Lubango, a capital provincial da Huíla, estão há muito partidarizadas, o que gera “uma grande confusão na ajuda, uma má interpretação”, que prejudica as pessoas mais afetados pela fome.
“Quem pode acudir, deve acudir. Mas às vezes o que acontece é pode haver uma doação e depois há sempre interrogatórios para se saber quem doou, se um partido, se uma igreja (...)”, esclarfece o representante da Associação dos Criadores Tradicionais de Gado Ovatumbi.
As crises de fome e seca, na província da Huíla, em particular nos Gambos, não são novas e não acontecem “por causa do MPLA ou da UNITA”, diz Kaio Tchakuyilwa, mas antes “por causa das mudanças climáticas, que passam pois são cíclicas; mas quando estamos neste momentos políticos, surgem acusações entre pessoas, o que não interessa pois quem sofre é quem já está a sofrer”.
Partidos trocam acusações
A atual situação “é preocupante, muito preocupante mesmo, na medida em que até à altura em que a digressão [de assistência] foi feita, não havia intervenções significativas do lado do Governo”, avalia Amélia Judith, secretária provincial da UNITA na Huíla.
As autoridades locais “sabem que todas as organizações que poderão dar o seu apoio é apenas um apoio pontual”, afirma Amélia Jutih que entende que “é necessário que haja programas que possam ultrapassar ou minorar estas situações”.
Do lado do MPLA, o secretário para os Assuntos Políticos e Eleitorais, José Miúdo Ndambuca, aponta o dedo: “é anarquia que determinados partidos semeiam no seio das comunidades porque, de facto, a democracia tem de ser preservada e bem entendida e não cada um fazer à sua maneira”.