Desmobilizados em Moçambique "esquecidos" pelo Governo
11 de agosto de 2023Há milhares de desmobilizados da guerra dos 16 anos, entre o Governo e RENAMO, cujo acordo de cessão foi alcançado em 1992, que até hoje aguardam pela sua reintegração, depois da sua desmobilização em 1994.
Esquecimento ou exclusão?
Estevão de Fátima, secretário provincial da Associação Moçambicana dos Desmobilizados de Guerra (AMODEG), fala num esquecimento do Governo.
"Ficámos esquecidos pelo Governo que devia nos cuidar. Existia, no acordo, desmobilização e reintegração social e nós não fomos reintegrados. Isso significa que devíamos receber talhões, mas não recebemos, e não vejo isso como reintegração, apenas considero como um abandono do Governo", lamentou.
Estêvão de Fátima diz que há assimetrias e exclusão no tratamento entre os combatentes da luta pela soberania e democracia, a famosa guerra dos 16 anos.
"Estamos a falar de 1994, ano em que foram desmobilizadas as pessoas, alguns ainda não saíram os seus nomes (não foram fixadas as pensões)", afirmou.
O secretário provincial da AMODEG explica que, por norma, "devia haver alguma diferença em termos de subsídio, mas estão longe demais". Estêvão de Fatima acredita que a disparidade de pagamentos justifica-se por interesses partidários.
"Hoje, um soldado da luta de libertação nacional no mínimo tem nove mil meticais (128 euros) e um desmobilizado da luta da defesa da soberania tem 1600 meticais (22 euros), e isso acontece porque o Governo acha que só é ‘filho do governo' aquele que ingressa no partido FRELIMO", disse.
Risco de voltar ao combate?
Recentemente, chegou ao fim em Moçambique o processo de Desarmamento e Desmobilização dos antigos guerrilheiros da RENAMO, principal partido da oposição no país, aguardando-se agora a sua reintegração.
O secretário provincial da AMODEG considera que esta última fase está a começar mal e pode ter um término infeliz.
"Os nossos irmãos que acabam de voltar das matas, refiro-me aos combatentes da RENAMO, esses também estão a ser abandonados", afirmou.
Estêvão de Fátima acredita que o processo de reintegração passa por "criar as mínimas condições" para que os indivíduos possam viver em sociedade, afirma que "essas mínimas condições não existem, e são esses pontos que criam novas guerras".
Os desmobilizados pedem que os parceiros continuem a apoiar o Governo, mas que também sejam eles a monitorizar os apoios para uma verdadeira reintegração.
"Tem havido o apoio da comunidade internacional, mas neste Governo está enformo de corrupção, os meios podem chegar mas não chegam aos destinatários", disse, explicando ainda que em 1994, houve muitos apoio para os desmobilizados, mas esses "benefícios não chegaram aos donos legítimos".