Despedimentos em massa no BPC agravam desemprego em Angola
2 de setembro de 2020Foi um início de semana difícil para os trabalhadores da maior entidade bancária de capitais públicos de Angola. Na segunda-feira (31.08), o BPC despediu 200 dos 1600 trabalhadores que deverão ser demitidos nos próximos tempos - incluindo alguns colaboradores com mais de 30 anos de serviço.
Além dos despedimentos em massa, o plano de reestruturação do BPC prevê o encerramento de 60 agências bancárias. A medida visa reestruturar a instituição que se encontra em falência técnica, segundo as justificações do Conselho de Administração da empresa.
António André Lopes, presidente do Conselho da Administração do BPC, afirma que as mudanças tornarão a estrutura comercial da instituição financeira mais sustentável.
O despedimento de trabalhadores já é um facto, confirmou à DW África uma fonte da comissão sindical dos funcionários do BPC que recusou gravar entrevista. Entretanto, o sindicato que defende estes trabalhadores continua a negociar com a direção da empresa.
"Demissões não são solução", dizem os jovens
A medida do BPC tem sido alvo de críticas da sociedade civil. "Há pessoas com mais de 30 anos de trabalho que vão ser despedidas, além disso, muitos são jovens. É altura de refletirmos para que serve o combate à corrupção", afirma o líder do Movimento Estudantil de Angola (MEA), Francisco Teixeira, que entende que o despedimento não vai resolver o problema do banco.
O MEA, que está a organizar uma marcha contra o desemprego em Angola, defende mais fiscalização e a punição dos gestores que terão contribuído para a falência técnica do BPC. "Mais do que penalizar simples funcionários, entre os quais balconistas e tesoureiros, o Estado devia prender os indivíduos que geriram de forma fraudulenta o BPC. Agora veem-se as consequências nas vidas dos cidadãos que são simples funcionários", afirma Francisco Teixeira.
As demissões em massa no BPC intensificam o debate sobre o desemprego em Angola, que afeta mais de metade da população jovem. O MEA está preocupado com os jovens no grupo de demitidos, que provavelmente terão dificuldades de reinserção no mercado de trabalho.
"É urgente que intensifiquemos a nossa pressão sobre o Estado", sublinha o líder juvenil, que defende uma intervenção do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) e do Ministério da Juventude e dos Desportos, para que prestem assistência jurídica aos funcionários demitidos.
O secretário-geral da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), braço juvenil da UNITA, o maior partido da oposição, também lamenta os despedimentos e diz que o Governo não tem políticas para combater o desemprego. "Não há uma perspetiva clara de que este problema se resolva a curto ou a médio prazo", critica Agostinho Kamuango, que defende que o problema do desemprego pode ser minimizado com a implementação das autarquias.
Prometidas indemnizações e formações
O Conselho de Administração do BPC garante que está assegurada uma indemnização de mais de 18 mil milhões de kwanzas (cerca de 24 milhões de euros), prevista na Lei Geral de Trabalho, à qual se irá acrescentar um prémio.
A direção da BPC anunciou que vai patrocinar duas formações técnico-profissionais para os funcionários despedidos. Também vai instalar uma linha de crédito para que os demitidos possam abrir empreendimentos na área da formação técnico-profissional.
O secretário da juventude do Partido de Renovação Social (PRS), Gaspar dos Santos, espera que a promessa se concretize. E pede mais apoio do Governo para projetos de empreendedorismo. "Gostaríamos que o Estado financiasse projetos brilhantes que, por sua vez, poderiam garantir oportunidades de emprego para outros cidadãos", sugere.