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Destino de migrantes ainda mais incerto na Europa

AFP | Reuters | cvt
16 de junho de 2018

Este sábado (16.06), ministro italiano alertou outra missão de resgate que não lhe seria permitido desembarcar em um porto italiano. Na semana passada, acesso foi negado a barco com mais de 600 migrantes a bordo.

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SOS MEDITERRANEE Migrante auf der Aquarius
Migrantes a bordo da embarcação "Aquarius"Foto: Kenny Karpov/SOS MEDITERRANEE

"Enquanto o 'Aquarius' está a navegar para a Espanha, duas outras embarcações operadas por ONGs holandesas ('Lifeline' e 'Seefuchs') chegaram à costa da Líbia, para esperar por suas 'cargas humanas' quando os traficantes os abandonarem", escreveu Matteo Salvini, ministro do Interior da Itália, em um post no Facebook.

"Essas pessoas deveriam saber que a Itália não quer mais fazer parte desse negócio de imigração clandestina e que eles terão que procurar por outros portos", disse ele. "Como ministro e como pai, faço isso em benefício de todos", acrescentou.

Seguindo o post de Salvini no Facebook, uma das ONGs, a Mission Lifeline, twittou em alemão "Quando os fascistas nos promovem..."

Um Salvini irritado respondeu, dizendo que "insultos e ameaças não vão nos impedir" e que os italianos administrariam seu próprio país.

Roma diz que apenas migrantes resgatados por navios italianos podem ser trazidos para portos italianos.

Deutschland Kutter Seefuchs der Regensburger Flüchtlingsinitiative Sea Eye
A embarcação "Seefuchs"Foto: picture-alliance/dpa/S. Sauer

Bloqueio ao "Aquarius"

Na semana passada, o novo Governo italiano de direita e anti-imigrante proibiu a embarcação "Aquarius", operada por uma ONG francesa, com mais de 600 migrantes resgatados a bordo, de atracar na Itália, causando alvoroço e uma briga com a França.

A Espanha, posteriormente, ofereceu-se para receber o "Aquarius", que é esperado no porto de Valência, este domingo (17.06).

"O Governo francês vai trabalhar junto com o Governo espanhol para lidar com a chegada dos migrantes", disse a vice-primeira-ministra da Espanha, Carmen Calvo, em comunicado.

"A França aceitará migrantes que expressem o desejo de ir para lá", uma vez que tenham sido processados em Valência, acrescentou.

Emmanuel Macron
O Presidente francês, Emmanuel MacronFoto: picture alliance/AP Photo

Após a decisão de Roma de banir o "Aquarius", o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, reuniram-se na sexta-feira (15.06) e concordaram que a União Europeia (UE) deveria estabelecer centros de processamento de asilo em África para evitar "viagens de morte".

Em sua reunião em Paris, Macron e Conte também exigiram mudanças "profundas" nas regras de asilo da UE, que colocam a carga migratória em seus portos de entrada na Europa – principalmente na Itália e na Grécia.

Já o promotor de Catania, na Sicília, disse que as ONGs que prestam assistência aos migrantes no Mediterrâneo "fazem parte de um sistema profundamente falho, que dá aos traficantes e criminosos inescrupulosos acesso à Europa".

À margem de uma conferência sobre imigração em sua cidade, Carmelo Zuccaro disse que o trabalho das ONGs "não corresponde ao senso de humanidade ou solidariedade".

Em resposta, as ONGs insistiram que suas ações visavam salvar vidas em uma rota migratória que custou milhares de vidas nos últimos anos no Mediterrâneo.

Italien | Matteo Salvini
Foto: Reuters/T. Gentile

Reação dos italianos

Manifestantes em uma marcha por direitos trabalhistas em Roma mostraram solidariedade aos migrantes, segurando cartazes dizendo que o Governo deveria "abrir os portos e as carteiras".

Enquanto isso, uma pesquisa publicada no jornal italiano "Corriere della Sera" mostrou que 59% dos italianos concordaram com a decisão do Governo de bloquear navios não italianos, dizendo que isso desencorajaria os traficantes de seres humanos de tentar contrabandear migrantes.

A pesquisa revelou ainda que 68% dos italianos acham que Salvini "elevou a voz", porque dessa forma o resto da Europa voltaria suas atenções para a preocupação da Itália de que poderia tornar-se o que ele chamou de "um grande campo de refugiados".

Mais de 1,8 milhões de migrantes chegaram à Europa desde 2014. A Itália agora abriga mais de 170.000 pessoas que buscam asilo, assim como cerca de 500.000 migrantes não registrados.

A Europa luta para compartilhar a responsabilidade de lidar com migrantes que tentam entrar na EU vindo de zonas de guerra e países pobres, principalmente de África e do Médio Oriente. Uma cúpula da União Europeia discutirá as regras de asilo do bloco no final deste mês.