Dezenas de ativistas anglófonos libertados nos Camarões
1 de setembro de 2017O Presidente dos Camarões ordenou a libertação dos líderes anglófonos presos há sete meses que eram acusados de terrorismo e conspiração contra o país.
Paul Biya solicitou ainda a retirada das acusações, uma medida que mostra a tentativa do Governo de Yaoundé em aproximar-se das pessoas das regiões anglófonas que se queixam de marginalização por parte da maioria francófona deste país bilingue com mais de 22 milhões de habitantes.
"O Governo está sempre de mente aberta", afirmou Issa Tchiroma, porta-voz do Governo dos Camarões, para quem a libertação é sinal de compromisso do Executivo com a minoria de língua inglesa.
"Todas as propostas concretas que contribuirão para resolver esses problemas serão bem-vindas. No processo, nenhuma pedra deve ser desviada e o Governo está pronto para ouvir. Nós apenas temos que ter em consideração que temos uma estrutura à qual chamamos leis e Constituição. Quaisquer que sejam as reivindicações, se cabem dentro deste quadro, não há problema. São bem recebidas", acrescentou Issa Tchiroma.
Os líderes citados na ordem de libertação assinada pelo secretário-geral da presidência dos Camarões incluem o advogado Felix Agbor Balla, o professor universitário Fontem Aforteka'a Neba e o político da oposição Ayah Paul Abine.
Foram presos em janeiro juntamente com outros 30 ativistas por organizarem uma greve pelos direitos da minoria anglófona. Foram acusados pelo Tribunal Militar de rebelião e incitamento à violência durante os protestos nas regiões do Noroeste e Sudoeste do país contra o Governo de maioria francófona do Presidente Paul Biya.
A detenção destes líderes provocou uma onda de contestação social nos últimos oito meses, que paralisou vários negócios, escolas e hospitais, com os profissionais a recusarem-se a trabalhar. Durante este compasso de tempo, vários ativistas anglófonos exigiram a libertação incondicional destes presos políticos.
As crianças já podem voltar à escola
O ativista Felix Gana considera que, pela primeira vez, o Executivo está a dar sinais de que está disponível para dialogar."É um grande passo do Governo para encorajar o diálogo, para mostrar que há paz e para dar a entender que os problemas da região de língua inglesa dos Camarões serão resolvidos."
O ativista não levou os seus filhos para a escola desde janeiro para pressionar o Governo. Mas agora, com as "boas notícias", "as crianças vão voltar para a escola e os meus filhos também estão de regresso às aulas".
Num vídeo partilhado após a libertação dos líderes anglófonos, alguns ativistas pediram ao Presidente dos Camarões, Paul Biya, que incentive o regresso dos camaroneses anglófonos exilados e que retire os cerca de cinco mil soldados que ele realocou nas regiões Noroeste e Sudoeste do país. Só depois é possível iniciar um diálogo genuíno.