Diálogo no Congo ainda sem resultados
26 de novembro de 2012Os rebeldes do M23 consolidaram esta segunda-feira (26.11) as suas posições em Goma e arredores, no leste da República Democrática do Congo (RDC), que ocuparam na semana passada.
Na mesma altura, o chefe militar dos rebeldes do M23, Sultani Makenga, deslocou-se a Campala, capital do Uganda, onde se encontrou com responsáveis militares ugandeses sobre a crise no leste da RDC. No sábado, o presidente congolês, Joseph Kabila, reuniu-se com alguns membros do M23, uma tentativa de diálogo que não deu os resultados esperados.
Cresce onda de apelos num mar de condições divergentes
Nas últimas 48 horas, os apelos lançados tanto pelos dirigentes da região dos Grandes Lagos, como pelos da comunidade internacional, multiplicaram-se com vista à retirada dos rebeldes do M23 da cidade de Goma.
O ministro alemão da Cooperação económica e do Desenvolvimento, Dirk Niebel, alertou as partes envolvidas no conflito sobre o perigo de uma escalada na região no leste do Congo democrático, que, segundo ele, poderia envolver toda a região. Niebel manifestou esta preocupação na abertura, em Berlim, de negociações entre os governos alemão e congolês sobre a ajuda ao desenvolvimento.
Enquanto isso, o governo congolês faz da retirada dos rebeldes de Goma a principal condição para o início de qualquer diálogo com o M23. Jean-Marie Runiga, chefe político do Movimento 23 de março, reage aos microfones da DW-África, afirmando que a retirada da cidade de Goma "não pode estar condicionada", mas "deve ser o resultado de negociações".
M23 recusa sair de Goma para iniciar conversações
"Se Kinshasa fizer dessa retirada uma condição para o diálogo, devo respoder com uma pergunta. Para onde iremos?", questiona, "não somos ruandeses, não somos ugandeses, nem burundeses e nem tanzanianos". "É aqui o nosso país", conclui.
Jean-Marie Runiga interroga-se sobre a insistência do governo de Kinshasa de que o M23 deveria ser o primeiro a abandonar Goma. "Que saiam outros grupos que estão na região e que fazem a lei na RDC", afirma, sublinhando: "É por isso que insistimos: não aceitamos a imposição de uma condição para o início do diálogo".
O chefe político do Movimento 23 de março desmente a existência de uma guerra em Goma e esclarece que o grupo pretende "que o governo de Kinshasa solucione os problemas do país no plano económico e social, onde nada funciona". "Devemos dialogar para que soluções sejam encontradas e a nossa opção do diálogo é a única solução", explica.
Comunidade internacional aponta o dedo a rebeldes e Ruanda
Jean-Marie Runiga desmentiu, por outro lado, que em Goma estejam a acontecer violações, nomeadamente, dos direitos humanos. Segundo Runiga, o M23 tem um exército disciplinado e estruturado e, juntamente com elementos da polícia, assegura a proteção dos bens da população na região.
Entretanto, a Monusco, que é mais importante e cara missão de manutenção da paz da ONU, continua a ser muito criticada por ter deixado o M23 ocupar Goma. Por exemplo, a França qualificou de "absurda" a decisão de interromper a defesa da cidade e denunciou o que chamou de "uma catástrofe humanitária no feminino", na qual muitos excessos são cometidos contra as mulheres.
Por seu turno, especialistas da ONU consideram que esta nova onda de violência é orquestrada, nomeadamente por razões étnicas, pelo Ruanda, que interveio várias vezes na RDC desde 1994 . Segundo estes especialistas, o exército ruandês estaria a fornecer armas e homens, estes da etnia tutsi, aos rebeldes do M23, informação desmentida tanto por Kigali como pelos rebeldes.
Autor: António Rocha
Edição: Maria João Pinto/ Helena Ferro de Gouveia