Eleições: Mulheres guineenses "desapontadas" com partidos
8 de março de 2019A Guiné-Bissau conta atualmente com 49 partidos políticos, mas apenas três são dirigidos por mulheres.
O Parlamento guineense aprovou em novembro uma lei de paridade que impõe aos partidos a fixação de uma quota mínima de 36% de mulheres nas listas. Mas esse número não foi respeitado.
"Estamos desapontadas", diz Djenane de Jesus, líder do Movimento Mais Mulheres (MMM).
"A maioria dos partidos políticos não conseguiu cumprir na íntegra com a lei. Os que conseguiram atingir os 36% de representatividade feminina, em termos de candidatas ao cargo de deputado da Nação nas eleições de 10 de março, são na sua maioria partidos sem expressão."
Apelo ao voto nas mulheres
Para a líder feminista, o encerramento do Parlamento durante meses em Bissau contribuiu para o atraso na implementação da lei. Mas Djenane de Jesus não perde a esperança e apela à participação das mulheres na política, a começar pela ida às urnas, nas legislativas de domingo.
O MMM tem apelado ao voto a favor das mulheres candidatas na sua página no Facebook e nos meios de comunicação social guineenses: "Esperamos realmente que haja uma maior representatividade, que haja um maior número de mulheres eleitas nessas eleições", afirma Djenane de Jesus.
Ruanda: Um bom exemplo?
O Ruanda ocupa o sexto lugar no ranking de igualdade de género, à frente da Alemanha, que está 14º lugar, segundo um estudo do Fórum Económico Mundial. Naquele país, pelo menos 30% de todos os empregos afetos ao serviço público são reservados para o sexo feminino. No Parlamento, a proporção de mulheres chega aos 61,3% - um recorde mundial.
Natacha Umutoni, blogger e empresária em Kigali, está orgulhosa desse feito. "Diria que estamos a fazer um grande progresso. E o facto de metade do nosso Governo ser composto por mulheres é um bom indicador. Mas certamente não é tudo perfeito aqui. O caminho é longo e o processo não está concluído", ressalva.
A igualdade de género no Ruanda está prevista na Constituição, mas é consequência do capítulo mais sombrio da história do país. Depois do genocídio, há 25 anos, as mulheres viram-se obrigadas a reconstruir tudo sozinhas.
"O genocídio desempenhou um papel importante no processo de igualdade de género no Ruanda, e o país não teve escolha senão fortalecer os direitos das mulheres", conta Umutoni.
"As pessoas no campo de batalha eram na sua maioria do sexo masculino. As mulheres ficaram para trás e tinham de cuidar de si e das famílias", acrescenta. "Muitos homens perderam a vida, deixando viúvas e filhos órfãos. Nesta situação, as mulheres tiveram de assumir diversos papéis, como ser chefes de família."
Paraíso para mulheres?
Quando se fala de política no Ruanda, as manchetes dos jornais mostram o país como a "Terra da Mulheres", a "Senhora Ruanda" ou o "Paraíso Feminino". Mas o jornalista da DW Fred Muvunyi aponta falhas no sistema. Um exemplo é a licença de maternidade, que continua a ser de 12 semanas.
Muvunyi critica ainda o facto da paridade de género na política do Ruanda ser frequentemente misturada com propaganda política para que o Presidente Paul Kagame lave a imagem no panorama internacional. O jornalista recorda também o caso de Diane Rwigara, uma ativista dos Direitos da Mulheres que tentou concorrer às eleições de 2017 contra Paul Kagame, mas que foi afastada e presa, acusada de ter falsificado assinaturas durante a candidatura. Um ano depois foi ilibada de todas as acusações.
"Por um lado, o Presidente afirma que apoia as mulheres e a igualdade. Ao mesmo tempo, desarma as mulheres que se sentem suficientemente fortes para concorrer à Presidência. Isto não é empoderar as mulheres. Isto mostra que o regime não está preparado para respeitar os direitos dos seus críticos", afirma Fred Muvunyi.
De 2017 para 2018, o número de mulheres deputadas em parlamentos nacionais de todo o mundo aumentou quase um ponto percentual, para 24,3%, segundo dados difundidos pelas Nações Unidas. Em 1995, as mulheres parlamentares representavam apenas 11,3% do total de deputados.
No Dia Internacional da Mulher, a ONU aponta para que haja 740 milhões de mulheres a trabalhar em economias paralelas e com restrições no acesso à saúde a proteção social. As mulheres fazem ainda 2,6 vezes mais trabalho não remunerado do que os homens, sendo que apenas 41% das progenitoras em todo o mundo recebem benefícios após a maternidade.