1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Dia de África: A maioria jovem quer ser ouvida

José Adalberto (Huambo)
25 de maio de 2019

No dia consagrado ao continente mais jovem, juventude pede reflexão sobre a liderança, condena o conservadorismo de uma elite política velha e exige mais espaço de intervenção.

https://p.dw.com/p/3J4Qy
Foto de arquivo (2018): Jovens em LuandaFoto: DW/Borralho Ndomba

77% dos africanos têm menos de 35 anos, segundo o Banco Mundial. No entanto, a realidade não reflete as estatísticas, quando se fala de participação na vida pública, dizem jovens ouvidos pela DW África em Angola, a propósito do Dia de África, que se assinala este sábado, 25 de maio.

Se há quem reconheça alguns avanços tímidos em alguns países do continente no que toca à inserção de jovens em cargos de relevo, muitos são os que apontam o conservadorismo de uma elite envelhecida que procura chamar a si todo o protagonismo.

É o caso do jovem politólogo Jorge Marcos Benedito, que, em entrevista à DW, afirma que o continente é gerido ainda por uma geração de políticos pouco atenta à ideia da abertura política e observância do espaço da juventude nesta esfera.

"A juventude africana, de um modo geral, tem tido pouca influência na tomada de decisões, porque a elite governante ainda é bastante conservadora, e demonstra uma certa insensibilidade do ponto de vista da audição democrática aos jovens", considera.

Participação política - "o calcanhar de Aquiles"

Em muitos países africanos, as lideranças ainda não atribuem espaço e influência aos jovens, nomeadamente na definição das politicas públicas e projetos que os beneficiem, como estabelece o artgo 11 da Carta Africana da Juventude que insta os Estados membros da União Africana a "garantir a participação dos jovens no Parlamento e noutros órgãos de decisão, de acordo com as leis em vigor".

Jovens angolanos protestam contra desemprego

Para o jovem académico Jorge Benedito, apesar de alguns países do continente terem somado alguns avanços, é importante que estados africanos apliquem, de facto, o espírito e letra da Carta da Africana da Juventude, quanto ao mecanismo de participação dos jovens na vida pública que, no seu entender, continua a ser o "calcanhar de Aquiles".

"Existem ainda muitos mecanismos pouco eficientes em relação à participação da juventude que fazem com que a opinião juvenil e a sua participação não seja a mais adequada", sublinha.

Para Elias Kalende, jovem engenheiro agrónomo, o continente tem de fazer uma transição geracional ao nível da sua liderança, por forma a garantir a presença de mais jovens em postos de tomada de decisão. Para o jovem angolano, a elite que lutou para a libertação de África continua amarrada a pensamentos que não se adaptam ao contexto atual.

"Ao comemorarmos o dia do continente, devemos refletir sobre a liderança. Facilmente chegamos à conclusão de que ela falhou, porque não conseguiu fazer a transição geracional no continente, nem tão pouco aplicar os instrumentos democráticos para a promoção das democracias internas", explica.

Angola Huambo - Carlos Lichony - angolanischer Buchhalter
Carlos LichonyFoto: DW/J. Adalberto

Jovens são "placas publicitárias"

O jovem engenheiro agrónomo entende que grande parte dos países africanos, ainda não observa o direito à participação da juventude na vida pública. Na sua opinião, os jovens têm sido usados pelos líderes  muitas vezes, mas apenas em causas  sem interesse.

"O futuro do continente e dos nossos países depende da juventude, mas o que temos notado é que os jovens são usados como placas publicitárias, para fazer de conta. No essencial, não temos grande protagonismo na gestão e decisão do futuro", sublinha Elias Kalende.

Por sua vez, o jovem contabilista Carlos Lichony, que já viveu em vários países da África Austral, afirma que os políticos africanos têm muito receio em atribuir cargos de relevo aos jovens e lança o alerta: a manter-se o atual paradigma, dificilmente o continente conhecerá outros níveis de desenvolvimento. Carlos Lichony afirma ainda que a elite está agarrada a causas e modelos de gestão corruptos que não se adaptam ao contexto da globalização e transparência.