Dia Internacional da Mulher: Partir pedra para sobreviver
8 de março de 2024O som produzido pelas marretas a chocar contra as pedras das montanhas do Lubango chama a atenção de qualquer um que entre no bairro da Pedreira.
É um musseque em que há pobreza extrema. E centenas de mulheres não querem depender dos baixos salários dos maridos, pois, dizem elas, só esse dinheiro não chega para sustentar as famílias. É por isso que escalam montanhas para conseguir pedras.
Quebram-nas e juntam-nas em montes para depois venderem. É um trabalho forçado, mas não lucrativo.
Paulina Chilia, de 34 anos, está no negócio há três anos. A jovem diz que se esforça para matar a fome.
Vende uma bacia de pedras com capacidade de 15 litros a 100 kwanzas (11 cêntimos de euro). Paulina espera vender pelos menos três bacias para ter 300 kwanzas. O dinheiro servirá para a compra de um quilo de farinha de milho para fazer o funge do jantar.
"Não tenho emprego e estou com fome e a sofrer com a criança. Estou a partir esta brita para conseguir um quilo de fuba. Diariamente vendo três a quatro bacias. Não chega para nada," relata.
Lutar contra a pobreza
Na sua maioria trabalham aqui mulheres solteiras, com fihos menores, sem ajuda dos pais. Tentam combater a pobreza com o que a natureza lhes oferece.
Rebeca Florinda explora e vende brita há dez anos para contribuir para as necessidades diárias da casa. O marido trabalha numa empresa de segurança e o seu rendimento mensal não chega sequer para a cesta básica.
"Os salários dos nossos maridos já não prestam. Às vezes, só conseguimos comprar 20 quilos de milho com o salário do marido. Não chega para nada. Compramos os cadernos das crianças com o dinheiro das britas," afirma.
Para conseguirem uma venda de 30 ou 50 mil kwanzas (entre 32 e 54 euros), as mulheres juntam-se em grupos de cinco ou dez pessoas. Cada uma contribui com montes de pedrinhas para encher uma carrinha e depois repartem os lucros.
O dinheiro também é dividido com os rapazes adolescentes que auxiliam no transporte das pedras. Neste negócio não é possível fazer poupança.
Beneficiar do Kwenda
As mulheres clamam pelo apoio do Governo, mas a ajuda nunca chega, apesar de várias promessas. No local, há mulheres de 70 anos de idade a quebrarem e a transportarem pedras para terem o que comer.
Maria Teresa, de 65 anos, sente-se abandonada pelo Governo. Ela trabalha há mais de 30 anos com as britas e diz que o trabalho não trouxe melhoria para a sua vida. O sofrimento só agudiza, disse Maria Teresa à DW:
"Estamos aqui há muito tempo e não estamos a ver nada. Nos esforçamos muito. Agora, também queremos a mesma ajuda que o Governo está a prestar às outras pessoas. Queremos ajuda porque também somos povo do Governo."
Marcelina Domingos é viúva desde 2006. Tem 52 anos de idade e diz ser o único suporte dos seus oito filhos órfãos. Ela e as outras mulheres a trabalhar no bairro da Pedreira também querem beneficiar do Kwenda, o programa do Governo angolano de apoio monetário às famílias mais pobres.
"As mães e as nossas avós também estão à espera do Kwenda para lhes ajudar," apela.
Marcelina diz que o governo local sabe da existência deste grupo de mulheres vulneráveis, mas "finge" que não existem.