Doença do amarelecimento ameaça coqueiros em Moçambique
Milhares de coqueiros afetados pela doença do amarelecimento letal tiveram de ser abatidos. Felizmente, os troncos podem ser reutilizados para mobiliário e construção de moradias, garantindo emprego a muitos.
Plantas de coqueiro afetadas pela doença do amarelecimento
A doença é caracterizada, numa fase inicial, pelo amarelecimento das folhas principais da planta, que deixa de produzir o coco. Posteriormente, as folhas começam a cair uma por uma em período indeterminado. Estima-se que mais de 2.000 plantas estejam afetadas pela doença, só na região da Zambézia, além das que já foram abatidas.
Várias explicações para a origem da doença
O ancião Fonseca Paulino defende que a doença é transmitida de uma planta infetada para outra através das raízes. Outros populares dizem que a transmissão ocorre pelo solo infetado. Há ainda quem afirme que os solos foram envenenados pelos colonizadores na década de 60, e pouco a pouco, o veneno foi-se alastrando. Também há os que culpam os resíduos sólidos vazados dos grandes navios no mar.
Matéria-prima para fazer de mobília
Um dos fins dos troncos de coqueiro afetados pela doença de amarelecimento letal é o fabrico de mobiliário. A compra dos coqueiros é efetuada em zonas onde a doença afetou mais plantas, perto da cidade de Quelimane, por exemplo, Maquival, Madal e Namuinho, para facilitar o transporte dos troncos através de viaturas de caixa aberta. Cada palmar morto custa 1000 meticais, cerca de 14 euros.
Cliente satisfeito
Mohamed Faruque Pringil faz parte da lista de clientes assíduos. Parte da sua moradia usa madeira de coqueiro. "Essa madeira é boa para mim, por isso sempre venho comprar. Gosto porque os barrotes são sete vezes mais compridos em relação àquela madeira normal das árvores florestais que é vendida nos mercados. Os artigos aqui produzidos também proporcionam boa estética".
Trabalho manual
Quando um tronco de coqueiro acaba de ser transformado em madeira (tábuas), segue o carregamento manual de outro e assim sucessivamente. Trinta homens, contratados sazonalmente, desenvolvem essas tarefas: carregar troncos à mão, retirar as tábuas da serralharia e arrumar nos seus respectivos lugares, de acordo com a sua espécie e qualidade.
Diversas aplicações
Depois de abatido palmar, há um longo caminho até aos resultados finais. Durante o processamento do tronco, na serralharia, há sempre separação da madeira: o caule, as tábuas de primeira, cascas de primeira e de segunda, que terão diversas finalidades. As tábuas e as cascas são vendidas para os cidadãos que preferem este material para a construção das suas casas e muros de vedação.
Reutilização em moradias
Há quem prefira as cascas pouco refinadas do tronco do coqueiro para a estrutura completa da sua casa. É o caso de Zito Sulude, que já investiu mais de 1000 meticais [cerca de 15 euros] só na compra deste material para a sua casa, que ele mesmo transporta, usando a sua bicicleta.
Mãos à obra, mulheres!
Jovens mulheres trabalham na fábrica ao lado dos homens. Com 25 anos, Fátima Laurindo (segunda da esquerda), é a mais velha do grupo e a mulher a trabalhar há mais tempo na fábrica. Devido à experiência, dá conselhos de segurança às colegas. Aconselha o uso de equipamento de proteção durante o trabalho, dormir cedo e beber leite para limpar as vias respiratórias do pó da serração.
Trabalhadora-estudante
Domingas Malemuge foi à fábrica pedir emprego e foi integrada há 4 meses. Explica que a situação financeira foi o motivo que a levou a abraçar a atividade, apesar dos riscos de saúde que envolve. Ganha o suficiente para sobreviver e custear os seus estudos. Ainda precisa de concluir o seu nível secundário do segundo ciclo, por isso, durante o dia trabalha na fábrica, à noite frequenta o ensino.
Trabalho a dois
Ruben Porto (à esquerda) e Leonardo Domingos (à direita), dois companheiros inseparáveis nesta arte. Conheceram-se há 5 meses e a sua missão é serrar e esculpir os caules de coqueiro em bilhas de maior dimensão e vasos. A transformação leva dias. As bilhas são vendidas a preços variáveis, ditados pelas dimensões de cada peça.
Produto terminado
Composição de mesa e seis cadeiras. O conjunto pode custar 15 mil meticais [cerca de 210 euros]. A madeira é exclusivamente de coqueiro, preparada e envernizada pelos operários.
Uma ameaça à espécie
Segundo especialistas, a doença representa uma grande ameaça à espécie, em Moçambique. Num total de cinco mil plantas de coqueiro, se uma estiver infetada, quase todas elas, num período de tempo estimado em 10 anos, serão infetadas ou dizimadas pela doença. Uma das hipóteses para conter o vírus seria abater logo a planta mais vulnerável.