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Dois anos depois da condenação, o que é feito dos "15+2"?

28 de março de 2018

Faz esta quarta-feira (28.03) dois anos que 17 ativistas angolanos foram condenados por atos preparatórios de rebelião. O que mudou nas suas vidas após a condenação? Para alguns, o desemprego passou a ser uma realidade.

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Prozess gegen Aktivisten in Angola
Foto: Reuters/H. Corarado

Os 17 ativistas angolanos do caso que ficou conhecido como 15+2 foram condenados a 28 de março de 2016 pelo Tribunal Provincial de Luanda, a penas entre dois e seis meses de prisão. Foram acusados de atos preparatórios de uma rebelião e de associação de malfeitores. Passados dois anos, o que é feito dos "revús"?

Laurinda Gouveia, uma das ativistas envolvidas no processo, lembra o dia em que o juíz Januário Domingos ordenou a detenção.  À DW África conta que "ficou sem chão". No entanto, possegue, "consegui recompor-me no mesmo dia devido aos meus companheiros que estiveram em situações piores".

Os jovens viriam a ser ilibados pela Lei da Amnistia em junho desse ano, apesar de não concordarem por não se considerarem criminosos. 

Dois anos depois da condenação, o que é feito dos "15+2"?

José Gomes Hata voltou a cantar rap e a dar aulas numa escola pública na província do Bengo, profissão que exercia antes da condenação. "A questão do emprego ficou salvaguardada, não perdi o emprego, felizmente", diz o ativista, acrescentando, no entanto, que "se tratou de uma questão de direito e não de favor".

Rosa Conde, outra das ativistas envolvidas no processo, exerce atualmente o cargo de secretária numa das formações políticas com assento parlamentar, a CASA-CE.

Desemprego é realidade para alguns

Mas outros ativistas do processo vivem dias difíceis. Fernando António "Nicola", por exemplo, tem paludismo e não tem dinheiro para comprar medicamentos.

O desemprego é um dos problemas com que alguns destes jovens tiveram que aprender a lidar. Laurinda Gouveia, que voltou à universidade para uma segunda licenciatura, vende churrasco à porta de casa de uma tia para pagar os estudos. A jovem confessa que, apesar das suas "tentativas", ainda não "conseguiu emprego", mesmo tendo terminado o curso o ano passado.

Na mesma situação de desemprego está Nito Alves. À DW África diz que é sua intenção retomar os estudos. Mas dá conta também das barreiras que continua a ter que enfrentar por causa do processo. "Tenho barreiras para conseguir emprego. Já tentei procurar emprego e a resposta é que tenho de aguardar porque há um crime no meu registo criminal", conta.

Arante Kivuvu, também desempregado, retomou os estudos na Universidade Agostinho Neto. "Antes de ser condenado eu trabalhava na SGO Ambiental, onde prestava serviço de recolha de resíduos sólidos. Agora sou desempregado e as dificuldades aumentam a cada dia que passa", confessa.

De regresso à "vida normal"

Liberdade em Angola?

Nelson Mendes dos Santos, Hitler Jessy, Mbanza Hanza e Luaty Beirão são alguns dos rostos da recém-criada ONG Handeka - uma organização que defende a liberdade de expressão e de participação de todos no exercício da cidadania.

O investigador Nuno Álvaro Dala continua a desenvolver atividades que denunciam a violação de direitos humanos. Atualmente lidera a campanha de recolha de assinaturas para pressionar o governo a intervir na reabilitação da escola "Angola e Cuba" no município do Cazenga, abandonada há oito anos.

Já o jornalista Domingos da Cruz, considerado o "cabecilha do grupo", encontra-se na Suécia, onde continua a desenvolver pesquisas e a dirigir o site "Observatório de Imprensa". E por fim, Sedrick de Carvalho, jornalista, está em Portugal a preparar o lançamento de um livro sobre Cabinda.

Governação de João Lourenço

Questionado pela DW África sobre o novo governo angolano, o ativista Arante Kivuvu mostrou-se cético, afirmando que esta "governação de João Lourenço pode ser uma faca de dois gumes". "Podes esperar algumas pequenas aberturas e podemos esperar as coisas piorarem um pouco porque o MPLA tem aquela matriz partido Estado", diz.

Por seu lado, Nito Alves afirma que ainda há muitos motivos para a realização de manifestações pacíficas em Angola."É uma irracionalidade por parte de um ativista e defensor dos direitos humanos dizer que Angola, neste momento, já não necessita de manifestação. É uma utopia por parte de quem diz isso".