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Dois jovens por mês morrem durante caça furtiva em Moçambique

Romeu da Silva (Maputo)23 de janeiro de 2014

Estudantes são recrutados por traficantes para extraírem o chifre dos rinocerontes que é vendido no mercado negro asiático. Dinheiro oferecido por chefes de quadrilhas atrai jovens que acabam abandonando a escola.

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Nashörner Wilderei Afrika.
Foto: picture alliance/WILDLIFE

A caça aos rinocerontes em Moçambique revela mais uma faceta cruel. Os traficantes de marfim estão a aliciar jovens para serem utilizados como mão de obra neste crime ambiental. Muitos são estudantes que, muitas vezes, morrem durante as caçadas.

Conforme a Polícia, somente no distrito de Magude, 20 jovens morreram em 2013, mas os inúmeros casos de desaparecidos faz com que se pense que a quantidade de mortos pode ser ainda maior. Eles foram assassinados por outras quadrilhas ou até mesmo acabam sendo vítimas em confrontos com as forças de segurança que tentam coibir a caça.

Magude fica na fronteira moçambicana com o Kruger Park, na África do Sul. Muitos jovens chegam a abandonar a escola para extrair o corno dos rinocerontes e vender o produto no mercado negro asiático. A tarefa é árdua. Os meninos recrutados desafiam a vedação farpada, evitam serpentes, passam horas sem comer e percorrem longas distâncias para fazer o trabalho.

O perfil

Os jovens de Magude que se envolvem na caça ao rinoceronte têm entre 17 a 35 anos de idade. São mandados ao Kruger Park em troca de valores que equivalem a algo entre 15 mil a 20 mil euros.

"Aqui nós tivemos três jovens de 16, 17 e 19 anos que morreram ao mesmo tempo. Na ocasião eu estava preocupada e fui reconhecer [os corpos] destas pessoas. Eram três irmãos", lembra Elisabeth, que é moradora de Magude.

O negócio é arriscado e o preço dos chifres variam. Um quilo pode custar entre 45 mil e 65 mil euros. Quem está na cabeça da quadrilha corre menos risco de vida porque recrutam os jovens e os esperam na vila, para onde o produto é levado. Os estudantes em Magude contam que alguns colegas abandonaram as aulas para caçar rinoceronte.

Quando não voltam para a casa, os jovens são encontrados mortos, podem ser dados como desaparecidos ou acabam sendo presos na África do Sul. O cenário de altíssimo risco desencoraja o estudante Atanásio, que cogitou participar do negócio.

Nashörner im Krüger-Nationalpark, Südafrika
Rinocerontes no Parque Nacional KrügerFoto: AP

"Às vezes outros irmãos saem daqui, abandonam a escola por causa disso. Às vezes vão para outros países a procura de rinocerontes e voltam sem vida. Às vezes, nem os corpos voltam", revela.

Atraídos pelo dinheiro

Stelio Chongo, 23 anos, conta que, há dois meses, seu irmão Cândido saiu para caçar rinocerontes. Era um estudante da escola local que saiu sem se despedir de ninguém. " Ele tinha este tipo de trabalho. Como ele não ia sozinhho lá naquele sítio, apareceram amigos que costumam ir nestes agentes [para o levar]", conta Chongo.

Na vila de Magude podem ser vistas viaturas e casas luxuosas erguidas à custa da venda de corno de rinoceronte. Arlindo Mabuiango, residente na vila, lança apelo para desencorarjar os jovens. "De facto eles fazem um dinheiro porque andam de carros e alguns até constroem. Mas cometem crime. Fazem a casa furtiva, são perseguidos, morrem ou são presos".

A polícia não só detém os implicados neste crime. É que os indivíduos que lá vão são jovens que deixam de estudar. O comandante da Polícia em Magude, Armando Mude, reconhece que está difícil combater este crime.

"Nós estamos a trabalhar com as populações todas, sensibilizando. Temos que diminuir, deixar de participar neste tipo de atividade para além do reforço da segurança em si."

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Elfenbeinhandel in Afrika
Mercado de marfim na ÁfricaFoto: picture-alliance/dpa
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