Domingos Simões Pereira toma posse como primeiro-ministro da Guiné-Bissau
3 de julho de 2014O presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, empossou esta quinta-feira (3.07) Domingos Simões Pereira como primeiro-ministro e pediu-lhe para tirar o país "da letargia em que se encontra", conforme "é a vontade do povo". Numa cerimónia no Palácio da Presidência, José Mário Vaz fez um discurso breve no qual desejou "boa sorte" ao novo primeiro-ministro, com quem se disponibilizou para cooperar.
O novo primeiro-ministro guineense diz ser conhecedor da "situação de dificuldade" em que o país se encontra e também da responsabilidade que é ser chefe do governo. "A partir de hoje começa a tocar, no sentido regressivo, o relógio para num período de quatro anos mudarmos a sorte e o destino desta Nação", observou Simões Pereira.
O novo elenco governamental guineense suscita grandes esperanças quanto à estabilidade de um país fustigado por repetidos golpes de Estado e “existe um verdadeiro motivo para essa esperança”, de acordo com Vincent Foucher, pesquisador do International Crisis Group (ICG). Mas nem todas as dificuldades foram ultrapassadas na Guiné-Bissau, ressalva o investigador.
População condena golpe militar
“Houve uma eleição com uma participação extremamente importante, 88% na primeira volta e 70% na segunda volta, com uma tomada de posição popular muito clara: o regresso do PAIGC, que venceu as duas eleições de maneira indiscutível, o que, no fundo, foi uma forma de a população dizer que o golpe militar de 2012 foi inaceitável”, justifica o investigador. Foucher conclui que, “deste ponto de vista, é encorajador que os guineenses tenham dito, na sua grande maioria, que o Estado militar deve terminar”.
Ainda assim, Vincent Foucher lembra que existem “problemas de fundo” no país, exemplificando com “uma economia muito frágil, baseada no clientelismo”. “É isso que explica o caráter um pouco desesperado e violento da luta política”, afirma, acrescentando que “no fundo, pequenos grupos da elite político-militar disputam as parcelas do Estado e isso é ainda muito presente”. Para o pesquisador, “tudo dependerá da forma como o novo Governo vai gerir os equilíbrios político-económicos. Essa gestão será decisiva”.
Mudanças e novas soluções
Para o pesquisador da ICG, existe uma situação muito interessante na Guiné-Bissau porque se sabe agora que muitas pessoas - incluindo algumas do exército - começam a pensar que os golpes de Estado são problemáticos e que, portanto, devem ser encontradas outras soluções.
“Há um novo regime que é do PAIGC, que prometeu trabalhar de forma inclusiva, dando um espaço à oposição, em particular ao PRS, o principal partido da oposição”, explica. Vincent Foucher sublinha ainda a adoção de “um tom muito moderado” por parte do PRS, “que tenta sair um pouco do seu cerco na comunidade balanta e, assim, alargar o seu espaço político”. “Finalmente”, afirma o investigador, “há os parceiros internacionais, que estão menos divididos do que no passado”. “Grandes parceiros e doadores como o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento estão interessados em levar a cabo coisas novas na Guiné-Bissau”, exemplifica.
A importância da autonomia política
Vários analistas têm afirmado que o novo Governo instalado em Bissau terá um período de um a um ano e meio para “arrumar a casa”. Segundo o especialista do ICG, a legitimidade dos novos governantes parece ser suficientemente sólida para “trabalhar bem” do ponto de vista das políticas públicas e da boa governação. Vicent Foucher espera que o novo Executivo faça avançar o país. Para tal, o Governo liderado por Domingo Simões deverá, segundo o pesquisador, “adquirir autonomia política suficiente para poder resistir às ameaças de atores políticos que possam ser tentados a regressar a uma solução do tipo violento.
Vicente Foucher sublinha,contudo, que persistem alguns problemas de fundo na Guiné-Bissau, nomeadamente a extrema pobreza, a fragilidade da economia, uma cultura política de redes de influência, conspiração e manipulações e tudo isso é uma pesada herança do passado recente com a qual o novo regime terá de trabalhar.