Dívida pública insustentável está a levar Angola ao abismo
15 de novembro de 2023"O futuro das nossas crianças está ameaçado com este Orçamento, as famílias angolanas não vão aguentar este Orçamento, as greves vão se multiplicar, o desespero vai fixar residência em Angola e ninguém vai querer investir aqui", disse hoje o presidente do grupo parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Liberty Chiyaka.
O Orçamento do próximo ano "é perigoso", porque "não se baseia na realidade e a sua execução, como tem sido prática, não vai obedecer aos princípios da transparência, da boa governação e da responsabilização", afirmou o político do maior partido da oposição angolana na sessão plenária de discussão na generalidade da proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE) para o exercício económico de 2024.
A UNITA considera que a fiscalização do OGE 2024 pela Assembleia Nacional e pelo Tribunal de Contas "também será obstruída, porque o Estado está capturado e tem um poder que se sobrepõe aos demais poderes".
Projeções económicas para 2024
O Governo angolano prevê o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2,8% em 2024, como reflexo do crescimento do setor não petrolífero com uma taxa de 4,6%, e uma inflação na ordem dos 5,3% no mesmo ano.
As autoridades angolanas propõem neste OGE o aumento salarial da função pública para 5%, que para a UNITA não será possível concretizar "porque os preços devem subir em 15% em 2024".
"Com este Orçamento, em 2024 a vida das famílias vai piorar, o desemprego vai aumentar, o preço da gasolina poderá voltar a subir, o kwanza vai desvalorizar ainda mais, o preço da comida vai continuar a subir e os que desviam o dinheiro do povo para benefício próprio vão continuar a roubar", apontou ainda Liberty Chiyaka.
Para o líder parlamentar da UNITA, as três prioridades do executivo angolano elencadas na proposta do OGE 2024, nomeadamente "fortalecer mais o rendimento das famílias, investir mais nas empresas e na economia e tornar o OGE mais sustentável", não serão alcançadas "porque os pressupostos não são realistas".
Segundo Chiyaka, "o país está falido e o Governo não cumpre a lei", referiu. A UNITA criticou também a atual dívida pública do país, considerando que pagar dívidas atrasadas às empresas, "dívidas ocultas, dívidas falsas e dívidas não certificadas não é um investimento".
O dirigente político salientou ainda que o Orçamento em discussão no parlamento "não é dos angolanos, mas sim da dívida do regime", é um "Orçamento que permite mais peculato, mais corrupção e menos responsabilização", que promove "desigualdades e assimetrias regionais".
Reformas vão continuar
O ano de 2024 será exigente, admitiu esta quarta-feira (15.11) o Presidente angolano, João Lourenço. Ainda assim, o Governo está determinado a prosseguir com as reformas e programas necessários para com o compromisso "de todos" se construir prosperidade e bem-estar social da população, disse o chefe de Estado na sua mensagem ao Parlamento sobre a proposta do OGE-2024.
O Presidente da República realçou que a economia global continua em 2023 a sua recuperação a um ritmo relativamente lento e a inflação mantém-se em níveis superiores às metas estabelecidas pelos bancos centrais das maiores economias.
Apesar do início da redução parcial dos subsídios aos combustíveis, prosseguiu João Lourenço, estima-se que o custo para as contas públicas no ano em curso se situe no dobro do valor inserido no OGE deste ano "claramente um valor insustentável".
Segundo o chefe de Estado, a conjuntura económica atual obrigou também à limitação dos gastos públicos, que resultou num impacto negativo sobre o desenvolvimento do setor privado e a condição de vida dos angolanos.