Dívidas ocultas: Manuel Chang condenado nos EUA
9 de agosto de 2024O veredito foi dado por um júri federal em Nova Iorque, avançou a agência de notícias Associated Press (AP). Manuel Chang foi acusado de aceitar subornos e de conspiração para desviar fundos dos esforços de Moçambique para proteger e expandir as suas indústrias de gás natural e pesca, num plano para enriquecer e enganar investidores.
Chang, que foi o principal responsável financeiro de 2005 a 2015, declarou-se inocente das acusações. Os seus advogados disseram que o ex-ministro estava a fazer o que o seu Governo desejava quando assinou as promessas de que Moçambique pagaria os empréstimos e que não há provas de uma contrapartida financeira para o então governante.
Entre 2013 e 2016, três empresas controladas pelo Governo moçambicano contraíram discretamente empréstimos milionários junto de grandes bancos estrangeiros.
Chang assinou garantias de que o Governo reembolsaria os empréstimos, cruciais para os credores.
As receitas deveriam financiar uma frota de atum, um estaleiro naval, navios da Guarda Costeira e sistemas de radar para proteger os campos de gás natural ao largo da costa do Oceano Índico.
Mas banqueiros e funcionários do Governo desviaram o dinheiro do empréstimo, disseram os procuradores norte-americanos.
Chang "escolheu participar" em esquema
"As provas neste caso mostram-vos que existe aqui um esquema internacional de fraude, branqueamento de capitais e suborno de proporções épicas" e que Chang "escolheu participar", disse aos jurados a procuradora adjunta norte-americana, Genny Ngai, nas alegações finais.
Os procuradores acusaram Chang de recolher sete milhões de dólares em subornos, transferidos através de bancos norte-americanos para contas europeias de um associado.
A defesa de Chang disse que não havia provas de que lhe tivesse sido prometido ou recebido um cêntimo.
O único acordo que Chang fez "foi o acordo legal de pedir dinheiro emprestado aos bancos para permitir que o seu país se envolvesse nestas obras de infraestruturas públicas", disse o advogado de defesa Adam Ford.
Ford argumentou que Manuel Chang aprovou a garantia do Governo de Moçambique porque o presidente do país assim o quis, e disse que não havia provas de que os 7 milhões de dólares se destinavam ao ex-ministro das Finanças.
"Veredito é uma vitória para o povo de Moçambique"
"O veredito de hoje é uma vitória inspiradora para a justiça e para o povo de Moçambique", afirmou Breon Peace, o Procurador-Geral dos Estados Unidos em Brooklyn, num comunicado.
Peace disse que Chang foi "um funcionário público corrupto e de alto nível cuja ganância e interesse próprio venderam um dos países mais pobres do mundo".
Descobertas em 2016, as dívidas foram estimadas em cerca de 2,7 mil milhões de dólares (cerca de 2,55 mil milhões de euros), de acordo com valores apresentados pelo Ministério Público moçambicano.