Economia de Moçambique cresce acima da média, mas população não vê ganhos
1 de junho de 2012
Enquanto o mundo discute saídas para a crise econômica mundial, a Africa deve crescer 4,5% este ano. Moçambique comemora melhores índices ainda: o país alcançou um crescimento de 6,8% em 2010 e 7,1% em 2011 e, de acordo com um relatório publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), deve continuar nesse ritmo pelo menos até 2016.
A diretora regional para África e Oriente Médio da Economist Intelligence Unit, Pat Thaker, explica que o fator determinante são os recursos naturais, especialmente gás e carvão. A descoberta de um grande campo de gás natural atrai "investimentos no país" baseados "numa maior estabilidade e certeza".
Com as recentes descobertas, Moçambique tem atraído a atenção em um cenário de crescente demanda energética. "O boom energético alcançou um outro estágio e isso também pode ser visto em números", afirma Thaker, referindo-se aos "90 mil milhões de dólares [que se espera que sejam investidos] ao longo dos próximos dez anos".
Mas para quem está em Maputo, como o economista Rogério Ossemane, do Grupo de Investigação sobre Probreza, Desenvolvimento e Globalização do Instituto de Estudos Sociais e Econômicos (IESE) em Maputo, a avaliação percorre outra linha. Para ele, manter o crescimento não será difícil, mas o desafio do país é outro. Ossemane assegura que apenas a exploração de recursos naturais já seria o suficiente para garantir esse crescimento. Mas "o mais importante para o nosso país não é a taxa de crescimento, mas sim como este se reflete socialmente". Ele afirma que não interessa simplesmente dizer que o país está a crescer se a produção e as riquezas geradas são de propriedade privada das grandes companhias: "O importante é como esses ganhos são retidos na economia e são distribuídos de maneira mais ampla".
Mais áreas para a agricultura
Mas não são apenas o gás e o carvão que têm contribuído para o crescimento econômico de Moçambique. Tradicionalmente, a agricultura responde por uma fatia importante do orçamento do país, mas, diz Rogério Ossemane, tal não significa crescimento da produção. Trata-se, portanto, de "uma agricultura que poderá ser explicada, por exemplo, no crescimento do setor de florestas, ou na produção de tabaco que não necessariamente se transferem em ganhos para a maioria da população que é rural".
Financiamentos externos, aportes do banco mundial e pagamentos de parcelas mais leves das dívidas também se somam aos números positivos de Moçambique. As previsões de longo prazo são bastante otimistas e apontam uma década promissora para a economia nacional.
Para os moçambicanos, no entanto, os números ainda devem demorar a tornar-se perceptíveis no cotidiano. Isso porque, como explica Pat Thaker, a exploração de gás e carvão não está ligada diretamente com a empregabilidade ou o mercado de suprimentos local. E além disso, a produção nesse setor não deve começar antes de 2018. Segundo ela, o que o governo precisa garantir é que os recursos sejam investidos de forma eficaz em áreas diferentes, particularmente na agriculura, educação e comunicação.
Menos benefícios fiscais e mais renda
Na opinião do economista Rogério Ossemane, a solução para que a população possa sentir os efeitos desse crescimento econômico passa por uma administração mais parcimoniosa na concessão de benefícios fiscais e no investimento correto dos recursos. Ele assegura que "a questão da tributação tem sido um problema, porque há a evidência de que excessivos benefícios fiscais teriam sido concedidos".
Nesse sentido, a diretora do Economist Intelligence Unit faz coro. Os moçambicanos têm uma eleição presidencial marcada para 2014 e o retorno que a população terá desse crescimento econômico está nas mãos daqueles que governam e dos que governarão o país.
Autora: Ivana Ebel
Edição: Marta Barroso