Zimbabué: Economia de novo à beira do colapso
13 de outubro de 2018A economia do Zimbabué continua a cair. Já há quem descreva a situação como a pior dos últimos dez anos, havendo no seio da população o medo de que, se nada melhorar, a economia possa chegar aos níveis observados em 2008 e 2009, quando o Zimbabué registou uma inflação de mais de um milhão por cento.
A escassez de moeda estrangeira tornou-se no principal problema do país. O governo não tem dinheiro e os bancos não estão a fornecer a tão necessária moeda estrangeira para financiar a enorme fatura da importação de bens essenciais. Os problemas económicos começaram em 2016, quando o país introduziu as "notas de obrigação", uma moeda local com um valor semelhante ao dólar americano, mas que não é considerada moeda corrente fora do país.
No entanto, estas "bond notes" emitidas pelo Banco do Zimbabué acabaram por fazer aumentar ainda mais a inflação.
Consequências na saúde
Para se conseguirem manter no mercado, alguns comerciantes insistem que os clientes paguem em dólares americanos ou em obrigações, mas com taxas altas. Uma realidade que tem estado a ter impacto na sociedade, nomeadamente, na vida dos doentes crónicos como é o caso de Ignatious Chari. "É muito frustrante. Fui à farmácia comprar a medicação. Antes costumava gastar dez dólares por semana. Agora são 44 dólares. Em outra farmácia foram 55 dólares. É rídiculo", diz.
A indústria farmacêutica foi duramente atingida pela escassez de moeda estrangeira no país. Portifa Mwendera, da Sociedade Farmacêutica do Zimbabué, explica que o setor necessita de quatro milhões de dólares por semana para importar medicamentos, no entanto o país não tem capacidade para tal.
"É muito mau que tenhamos esgotado medicamentos por causa de algumas doenças. Não temos medicamentos para mais do que apenas algumas semanas. Alguns fabricantes desaceleraram as operações para níveis pertos do zero", afirma.
Atualmente, existe no Zimbabué muita especulação, o que levou a uma subida nos preços duas a três vezes por dia. As filas nos postos de gasolina voltaram agora a ser como em 2009. Onismous Kufa é motorista e conta, em entrevista à DW, que tem enfrentado filas de várias horas para atestar. Afirmando que a situação é "dececionante”, este motorista conta que "tudo está parado". "Não podemos fazer negócio, não podemos fazer nada porque temos que passar o dia inteiro à espera do combustível. Estamos muito desapontados", diz.
Para angariar fundos, o novo ministro das Finanças, Mthuli Ncube, introduziu um imposto de dois por cento por dólar nas transações eletrónicas. Uma media que causou desconforto no seio da população. Mas, aos olhos deste governante, esta "dor" é um mal necessário.
"Estamos diante um doente com uma hemorragia e precisamos de parar o sangramento. Não conseguimos fazê-lo sem dor. A meu ver, sentimos a dor maior no início do primeiro e do segundo ano para depois estabilizar a nossa macro economia. Todos nós ficaremos felizes por termos sentido a dor juntos, como uma nação, e de termos seguido em frente", garante.
Confiança no governo
Analistas dizem que o governo precisa de rever as medidas monetárias e fiscais recém-introduzidas, sob pena destas prejudicarem ainda mais a economia, que está já em dificuldades. Para o economista John Robertson, o "governo tem que manter as suas promessas" para trazer de volta "a confiança das pessoas". "Há uma enorme falta de credibilidade neste momento. Temos que superar a falta de confiança que existe atualmente no governo".