Edis moçambicanos tomam posse e há novidades em Chiúre
7 de fevereiro de 2019É um dia histórico no município de Chiúre, província de Cabo Delgado. A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o seu cabeça de lista, Alicora Ntutunha, tomam posse esta quinta-feira (07.02) pela primeira vez, num terreno tradicionalmente tido como da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
Para a RENAMO, esta tomada de posse desconstrói a velha narrativa de que o eleitorado da província seja pertença do partido no poder em Moçambique.
Cabo Delgado é uma província simbólica: foi aqui que começou a luta pela independência de Moçambique, pelas mãos da FRELIMO, e onde surgiram as primeiras zonas libertadas. Mas Singano Assane, delegado político da RENAMO em Cabo Delgado, sublinha que a província "não é da FRELIMO".
"Hoje, se a RENAMO está a governar em Cabo Delgado, é a resposta que o povo está a dar à FRELIMO, para [mostrar] que a província não é da FRELIMO", afirma Assane em entrevista à DW África.
RENAMO confiante no futuro
Será que Chiúre é apenas o ponto de partida de uma possível expansão da RENAMO nas próximas eleições gerais, marcadas para 15 de outubro?
"Eu acredito que teremos resultados positivos nas próximas eleições", responde Singano Assane. "O povo sabe de tudo o que acontece e está muito evoluído. A democracia cresceu no país a o povo sabe o que está a fazer."
Cabo Delgado foi a província onde nasceu o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi. Mas, segundo o sociólogo Reginaldo Mutemba, as autárquicas de outubro mostraram que o local de nascimento do chefe de Estado não determina a escolha do partido, na hora da votação.
Segundo Mutemba, a eleição do primeiro governo regional da RENAMO em Cabo Delgado é sinal de que a simpatia popular pelo partido está a aumentar. Mas o professor universitário adverte que a RENAMO só continuará numa maré de vitórias se corresponder às expetativas dos munícipes.
"Nem sempre a mudança de um partido para outro tem resultado na resolução dos problemas", alerta.
Cumprir as promessas
Rafael Martinho, outro académico, diz que a chegada da RENAMO à liderança de Chiúre resulta da constante frustração das expetativas dos eleitores daquela vila em relação à governação da FRELIMO.
"Agora, viram na oposição uma alternativa para satisfazer os seus intentos. [Mas] isto não é estático. As pessoas mudam consoante os tempos e consoante as promessas que não foram cumpridas", diz.
Martinho frisa que, se o novo edil de Chiúre conseguir melhorar as condições de vida, isso poderá jogar a favor da RENAMO nos próximos pleitos. Caso contrário, o eleitorado poderá fazer novas escolhas.