Eleições à sombra do medo na RDC
17 de dezembro de 2018A menos de uma semana das eleições na República Democrática do Congo (RDC), aumentam os receios de violência e de fraude eleitoral. Na semana passada, oito mil urnas eletrónicas e outros equipamentos eleitorais foram destruídos num incêndio num dos principais armazéns da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), na capital, Kinshasa.
As causas do incêndio ainda não são conhecidas. Em entrevista à DW, o presidente da CENI, Corneille Nangaa, fala num grave revés. "O material eleitoral armazenado estava previsto para a cidade de Kinshasa. Obviamente terá os seus efeitos, mas não irá impedir o processo eleitoral", assegura. Urnas eletrónicas de outras partes do país já foram enviadas para a capital, onde vivem quatro milhões de eleitores.
Urnas eletrónicas e manipulação de resultados
A utilização de urnas eletrónicas - uma novidade nestas eleições - tem sido contestaDA pela oposição, mas também pela comunidade internacional. Consideram que podem ser facilmente manipuladas e não são de confiança.
Observadores como Gesine Ames, coordenadora da Rede Ecuménica da África Central, também se mostram céticos: "Há uma grande incerteza por causa da preparação das eleições. Os materiais eleitorais têm de ser distribuídos por todas as províncias e os observadores credenciados. O tempo é curto e aumentaram os receios de violência."
A insatisfação no país é grande. Embora o mandato de Joseph Kabila tenha terminado oficialmente em 2016, o Presidente adiou várias vezes a eleição de um sucessor. Multiplicaram-se, por isso, as manifestações contra o polémico chefe de Estado, muitas vezes reprimidas com violência pelas forças de segurança.
Joseph Kabila governa a RDC desde a morte do pai, Laurent-Désiré Kabila, em 2001. Em 2006, ganhou as primeiras eleições livres na história do país. Agora, aos 47 anos, Kabila espera que o seu sucessor seja o seu "delfim" Emmanuel Ramazani Shadary, ex-ministro do Interior e secretário-geral do Partido do Povo para a Reconstrução e Democracia (no poder). A União Europeia impôs sanções contra Shadary, considerado o responsável pela repressão violenta dos protestos contra a permanência do Presidente Kabila no cargo.
Emmanuel Shadary não é considerado um peso pesado político, mas alguém que continuará a política de Kabila, lembra Gesine Ames. "O candidato do Governo tem mais hipóteses de vencer, apesar de sondagens feitas por peritos independentes mostrarem que não é nada popular", sublinha. "Em circunstâncias transparentes, justas e independentes, ele não teria nenhuma hipótese. Mas com a influência do governo de Kabila e a compra de votos, tem possibilidades de ganhar as eleições. Não seria nenhuma surpresa se ele vencesse."
Oposição dividida
Felix Tshisekedi e Martin Fayulu são os dois candidatos da oposição, que está dividida e enfraquecida. No início de novembro, os sete principais partidos da oposição congolesa tinham decidido que Fayulu seria o candidato único para fazer frente a Emmanuel Shadary. Mas poucas horas depois algumas partes anunciaram que se retiravam do acordo. Surge, então, a candidatura de Tshisekedi, líder do maior partido da oposição.
Martin Fayulu, de 62 anos, antigo quadro do setor petrolífero formado em França e nos Estados Unidos, é visto pelo governo como "candidato estrangeiro". É apoiado por Jean Pierre Bemba e Moïse Katumbi, os dois principais políticos da oposição, que foram impedidos de participar na corrida presidencial.
Bemba, ex-chefe rebelde e ex-vice-Presidente, foi condenado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por manipulação de testemunhas. Regressou em agosto à RDC, depois de 10 anos na prisão por crimes de guerra e contra a humanidade cometidos na República Centro-Africana. Katumbi, que vive no exílio desde 2016, foi impedido de voltar à RDC - onde é procurado pela justiça - quando tentou passar num posto fronteiriço com a Zâmbia.
Felix Tshisekedi, líder da União para a Democracia e Progresso Social (UDPS), tem como principal aliado Vital Kamerhe, presidente da União pela Nação Congolesa (UNC). O antigo presidente do Parlamento retirou a sua candidatura às presidenciais para apoiar Félix Tshisekedi. O filho de Etienne Tshisekedi, antigo presidente da UDPS, é considerado há muito o rosto da oposição congolesa e está confiante na vitória eleitoral.