"Eleições de 2012 foram injustas", dizem jovens manifestantes
3 de setembro de 2012
O movimento da sociedade civil que, há mais de um ano e meio, tem vindo a manifestar-se contra o governo angolano, diz, sem hesitar: as eleições não foram justas.
Já antes das eleições, os jovens Teka Pedrowski, Luaty Beirão e Adão Ramos desconfiavam da organização do processo. Unidos pelo mesmo sentimento de contestação, há mais de um ano, decidiram lançar uma plataforma informática de acompanhamento do dia das eleições gerais em Angola.
O resultado: centenas de queixas de cidadãos que, de acordo com os jovens angolanos, são a prova de que “as coisas não correram bem”.
Irregularidades assustam jovens revolucionários
Ao enviado especial da DW a Luanda, António Cascais, no dia das eleições, Adão Ramos admitia ser difícil gerir as inúmeras queixas de incidentes: “Para já são muitas. São tantas que, para o número de pessoal que temos, está difícil tomar conta delas. E quase todas apontam irregularidades das mais variadas, dando conta de que este processo eleitoral está a ser realizado de forma atabalhoada e com condições que não se recomendavam.”
Pessoas nas assembleias que indicaram aos eleitores onde votar ou eleitores que confirmaram os locais onde deveriam votar através da CNE mas que, chegados às assembleias não encontraram os seus nomes nos cadernos eleitorais são apenas dois exemplos de uma lista de irregularidades que surpreendeu os mentores da plataforma de denúncias.
Adão Ramos descreve “casos de assembleias em que não estiveram presentes delegados de lista de partidos da oposição, eleitores que se deslocaram para votar e não se confirmaram os seus nomes nos cadernos mas votaram", concluindo que "a lista é infindável". "Ficamos até assustados com o tipo de irregularidades que se verificaram ao nível das assembleias", acrescenta.
Consciencialização é mais importante que justiça em tribunal
As queixas apresentadas poderão não ter valor legal em sede de Tribunal Constitucional. Ainda assim, segundo Luaty Beirão, mais conhecido como o rapper Ikonoklasta, uma compilação dos resultados da ação, a ser feita em breve, servirá para alertar a consciência da população angolana.
“Não domino a lei o suficiente para saber se mensagens mandadas, muitas delas, de forma anónima, têm algum caráter vinculativo ou podem ser usadas como algum tipo de prova, acho que não", explica.
Apesar de tudo, a questão legal não é o objetivo final dos manifestantes. "O que nos interessa aqui não é tanto a justiça per se mas a impressão das pessoas de que as coisas não correram bem e que não foram justas. E essa informação disponibilizada de forma tão clara, tão democrática e tão aberta, depois fica ao critério de cada um julgar", considera Luaty Beirão.
O rapper conclui: "Para nós, a idéia, a impressão que as pessoas têm, é mais importante do que o Tribunal Constitucional em Angola.”
Uma vontade de abrir as mentes angolanas que ganha força nas palavras de Teka Pedrowski, outro dos jovens manifestantes: “Há um medo, na generalidade. Mas, cada vez mais, há poucos jovens conscientes e sem medo. Por exemplo, eu digo aquilo que acho que é errado e certo mas a maioria dos jovens não é literada, não é consciente. São pessoas que vêem o sofrimento a que são submetidas, reclamam, mas não sabem como fazer isso devidamente.”
www.eleicoes angola2012.com continua disponível online e o slogan “Vamos defender o nosso voto” está ainda bem visível, no final de umas eleições que os mentores da plataforma informática consideram injustas.
Autores: Maria João Pinto/António Cascais
Edição: António Rocha