Oposição denuncia violência e intimidação na Zambézia
10 de setembro de 2019A campanha eleitoral na província da Zambézia, no centro moçambicano, começou a esquentar com os partidos políticos a enfrentar dificuldades na caça ao voto para as eleições do dia 15 de outubro. As forças políticas da oposição apontam vários ilícitos que, no entanto, são desvalorizados pelo partido no poder.
Manuel de Araújo, o candidato a governador da Zambézia pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), diz que sua campanha está a decorrer num ambiente doentio.
"Algo que nos preocupa bastante que é a não existência de um ambiente favorável para a atividade política. A nossa Constituição diz que a liberdade de manifestação, a liberdade de opinião e a liberdade de expressão são direitos consagrados", afirma Araújo, que revela que em vários distritos "essa atividade politica é apenas reservada ao partido no poder".
Perseguição política
E ao fazer essa crítica, Manuel de Araújo apresenta três exemplos concretos de casos que aconteceram recentemente. Um deles ocorreu há poucos dias, quando, segundo o candidato da RENAMO, "um jovem docente da escola de Gurissa, que só pelo facto de ter recebido em sua casa o cabeça de lista da RENAMO, foi assaltado e neste momento está no hospital central de Quelimane a receber tratamentos".
"Tivemos outro caso em Pinda, onde populares, esperando o cabeça de lista do partido RENAMO, foram violentados pela própria autoridade policial. Temos também um caso em Inhassunge, onde um cidadão, também por ter cumprimentado o cabeça de lista da RENAMO, foi espancado e arrancaram-lhe os seus bens", denuncia Manuel de Araújo.
Partido no poder não vê ilícitos eleitorais
Entretanto, Pio Matos, candidato a governador da Zambézia pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), não vê dificuldades alguma na atual campanha, sobretudo no que diz respeito aos ilícitos eleitorais apontados pela oposição.
Para este candidato do partido no poder, "a campanha decorre num clima de paz". "A Zambézia sempre pautou por este principio cívico. Somos uma população bastante disciplinada, que se respeita e que se faz respeitar. Por isso a campanha está a decorrer num ambiente de paz", ressalta.
Para o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), os episódios violentos que estão a ocorrer durante a campanha, nomeadamente contra os apoiantes de alguns candidatos, demonstram efetivamente que o processo não está a ser conduzido da forma como todos esperavam.
Vitorino Francisco, porta-voz da campanha do MDM na Zambézia, diz que o partido esperava que "fosse uma campanha à dimensão dos discursos que foram proferidos no início da mesma pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), apelando que a campanha fosse ordeira".
Uso indevido de bens do Estado
No entanto, Vitorino Francisco denuncia "a continuação do uso abusivo das viaturas do Estado pelas caravanas dos membros do Governo que se confundem com os membros do partido no poder". "Uma realidade que faz com que as pessoas tenham a ideia de que a FRELIMO é quem manda e, portanto, os não frelimistas apenas se sujeitam a cumprir", afirma.
Também Vitorino Francisco cita exemplos: "deparamos-nos nos últimos dias com situações piores, estamos a falar de situações de ameaças aos nossos membros e simpatizantes quando realizam a campanha porta a porta".
"Por exemplo", continua o porta-voz, "uma família de membros do MDM em Milange foi vítima de assassinato e procuramos perceber quais seriam as motivações, enquanto os lideres comunitários recusaram efetuar a cerimonia fúnebre alegadamente porque eram membros do MDM. Também foi recusado o uso do cemitério. Nós em vida não temos a liberdade, mas também na morte é-nos negado o direito de ter uma sepultura. Isso é gravíssimo!", concluiu o porta-voz da campanha do MDM na Zambézia.
Entretanto, os candidatos a governadores provinciais Manuel de Araújo, da RENAMO, e Luís Boa Vida, do MDM, trabalham esta semana na região norte da província da Zambézia, enquanto Pio Matos, da FRELIMO, escala a zona centro.