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Eleições em Moçambique marcadas por grande afluência

Romeu da Silva/Nelson Carvalho/O. Obadias/Lusa20 de novembro de 2013

Governo e partidos descreveram grande afluência às urnas, sobretudo nas primeiras horas. Comissão eleitoral fala em sufrágio "ordeiro", mas há denúncias de voto múltiplo. Na Gorongosa, houve tiros atribuídos à RENAMO.

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Foto: picture-alliance/dpa

Durante a manhã desta quarta-feira (20.11), registou-se uma grande adesão dos eleitores junto às mesas de voto, mesmo na região centro do país, palco dos sistemáticos ataques dos homens da RENAMO, maior partido da oposição, nos últimos meses.

Segundo o presidente da Comissão Nacional de Eleições de Moçambique (CNE), Abdul Carimo, a população compareceu em massa às urnas.

"Em quase todos os municípios, a afluência é muito grande, pelo menos nestas primeiras horas, e nós esperamos que até ao fim do dia e do processo eleitoral, a afluência continue a ser a mesma e tenhamos um nível de participação muito elevado", declarou Abdul Carimo, depois de exercer o seu direito de voto.

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Em Pemba, na província de Cabo Delgado, eleitores fazem fila para exercer o direito de votoFoto: DW/E. Silvestre

Gorongosa: tiros ao início da manhã

Mesmo na Gorongosa, província de Sofala, o processo decorreu sem incidentes, depois de homens armados não identificados terem disparado tiros na região de Nhambonde, sem contudo terem perturbado a normalidade do processo eleitoral.

O ataque ocorreu às primeiras horas da manhã, mas de acordo com Paulo Majacunene, administrador do distrito de Gorongosa e membro da FRELIMO, citado pela agência Lusa, o exército governamental repeliu os ataques nos arredores da vila.

O Presidente da República, Armando Guebuza, disse, momentos depois de votar, que tudo estava preparado para que o processo decorresse com normalidade.

Questionado sobre a situação de insegurança no município de Gorongosa, Guebuza disse que a sua preocupação é que os moçambicanos consigam exercer o direito de voto.

"A minha expectativa para o centro do país é que nós continuemos a garantir que todos votem e participem. E dizemos isso na Gorongosa, na Beira, Dondo.", comentou, acrescentando acreditar "piamente" na ida dos moçambicanos às urnas.

A polícia garantiu segurança em todas as mesas de assembleia de voto, segundo o porta-voz do comando-geral da corporação, Pedro Cossa.

"Todos os comandos provinciais foram instados a despachar os seus efetivos para as mesas de voto", asseverou.

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Em Maputo, o Presidente da República, Armando Guebuza, molha o dedo na tinta indelével para poder votarFoto: picture-alliance/dpa

Filomena Mutoropa excluída dos boletins de voto

Também em Nampula, a afluência às urnas foi grande, principalmente no centro da cidade, uma vez que nos bairros verificou-se um menor interesse no exercício de voto.

Nesta cidade, o processo ficou manchado pela exclusão no boletim de voto do nome da candidata do Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), Filomena Mutoropa, que já pediu a anulação do processo. "Dirigimos uma carta à comissão das eleições da cidade para ver se podem considerar o nosso pedido de anulação. Nós vamos atrás deles até que possam resolver a situção porque nós temos direitos, nós somos cidadãos que reunimos condições para concorrer", frisou.

Eleições em Nampula serão repetidas no dia 1 de dezembro

A votação em Nampula será repetida no dia 1 de dezembro, devido as irregularidades nos boletins de votos, anunciou a Comissão Nacional de Eleições (CNE) em Maputo. A decisão foi tomada no final da tarde da quarta-feira.

Eleições marcadas por grande afluência, falhas em Nampula e denúncias de voto múltiplo na Ilha de Moçambique

Os erros nos boletins de voto em Nampula afectaram igualmente, na eleição dos membros da Assembleia Municipal, o nome do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) que ali aparece duas vezes. O MDM surge em segundo lugar, correctamente, mas também em terceiro lugar, no espaço reservado ao PDD.

Eleitores reivindicam cumprimento dos manifestos

Noutros pontos da província de Nampula, há informações de que alguns boletins de voto foram encontrados a serem preenchidos fora das mesas de votação no município de Angoche.

Em Ribáuè, o candidato da Associação para Educação Cívica e Moral para Exploração de Recursos Naturais (ASSEMONA) foi detido por alegadamente ter praticado bruxaria na casa de um médico tradicional.

Em Quelimane, capital da província da Zambézia, os munícipes esperam que o novo edil favoreça o desenvolvimento da cidade, sobretudo no que diz respeito à energia elétrica, água potável, estradas e emprego jovem.

A Polícia da República de Moçambique em Queliomane assegurou à DW África que a votação decorreu de forma ordeira, apesar de manchada por casos de cidadãos que tentaram votar duas vezes.

Votação múltipla na Ilha de Moçambique

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O candidato independente à autarquia de Maputo, Ismael Mussá, mostra o dedo manchado pela tinta indelévelFoto: Ferhat Momade/AFP/Getty Images

Há relatos generalizados de voto múltiplo na Ilha de Moçambique, onde alguns eleitores foram autorizados a sair das assembleias de voto sem passar os dedos na tinta indelével para votar noutras mesas de voto.

“Há militantes ou membros do partido no poder que vão para lá com cinco ou seis boletins de voto e fazem a votação à vontade”, disse à DW África Ismael Amade, coordenador da Rádio On'Hipiti, parceira da DW na Ilha de Moçambique. “Os observadores já foram notificados e há casos flagrantes, mas eles só se limitam a anotar”, acrescentou.

Também em 2008, nas últimas autárquicas, registou-se o preenchimento fraudulento de boletins de voto, como relatou na altura o Centro de Integridade Pública de Moçambique.

“Já se está a tornar uma tradição em fazer votações múltiplas, porque há pessoas sedentas de poder que se mantêm no poder com falcatruas”, lamenta o jornalista.

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No escrutínio, eram esperados 3.059.794 eleitores em todo o paísFoto: DW/E. Silvestre

Mesas sem membros

Na Beira, várias mesas de voto na Escola Primária Amílcar Cabral, no bairro da Munhava, palco de confrontos no sábado (16.11) entre apoiantes do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e a polícia, estiveram encerradas. Segundo relatos de populares à agência de notícias Lusa, uma das mesas funcionava a meio-gás, com apenas uma das cinco pessoas que deveriam estar destacadas para o efeito.

Em todo o país, as urnas, que foram instaladas em 4.292 mesas de voto, abriram às 07h00 horas locais e encerraram às 18h00 horas, num escrutínio para o qual foram inscritos 3.059.794 eleitores, num recenseamento de raiz realizado para o sufrágio que teve lugar em 53 municípios.

A RENAMO não participou nas eleições municipais, em protesto contra a composição dos órgãos eleitorais, que acusa de serem favoráveis à FRELIMO, partido no poder.

Não está marcada qualquer data para a divulgação dos resultados sendo, no entanto, de prever que números provisórios, e não oficiais, possam ser anunciados pelos partidos, a partir de madrugada desta quinta-feira (21.11).

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Na Gorongosa, apesar dos disparos ouvidos às primeiras horas da manhã, as eleições decorreram de forma pacíficaFoto: Reuters
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